O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mantiveram um telefonema nesta terça-feira, 2 de dezembro, que durou 40 minutos. A conversa, descrita por ambos os lados como muito produtiva, abordou temas centrais nas relações bilaterais, com foco em questões comerciais e nas sanções impostas pelo governo norte-americano.
Diálogo focado em comércio e tarifas
Em declarações a jornalistas na Casa Branca, Donald Trump confirmou que discutiu sanções com Lula, em uma aparente referência às medidas adotadas contra o Judiciário brasileiro no contexto do processo criminal envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Trump afirmou que a conversa foi excelente e destacou: “Falamos sobre comércio. Falamos sobre sanções, porque, como vocês sabem, eu os sancionei em relação a certas coisas que aconteceram”.
Do lado brasileiro, o Palácio do Planalto informou que Lula expressou ao colega norte-americano o desejo de “avançar rápido” nas negociações para a retirada da sobretaxa de 40% que ainda incide sobre alguns produtos brasileiros. Essa tarifa adicional foi imposta em 6 de agosto, como retaliação a decisões que, segundo Trump, prejudicariam as grandes empresas de tecnologia dos EUA e também em resposta ao julgamento de Bolsonaro.
Contexto das medidas comerciais e avanços recentes
A política de sobretaxas, conhecida como “tarifaço”, faz parte de uma estratégia mais ampla da administração Trump para reequilibrar a competitividade comercial dos Estados Unidos, especialmente em relação à China. Inicialmente, em 2 de abril, Trump impôs barreiras alfandegárias variadas, aplicando ao Brasil uma taxa de 10%, devido ao superávit comercial que os EUA mantêm com o país.
No entanto, houve movimentos recentes de flexibilização. Em 20 de novembro, a Casa Branca anunciou a retirada de 238 produtos da lista de tarifas, beneficiando itens como café, chá, frutas tropicais, sucos, cacau, especiarias, banana, laranja, tomate e carne bovina. Uma isenção para certos produtos agrícolas brasileiros já havia ocorrido em 14 de novembro.
Apesar do alívio, 22% das exportações brasileiras para os Estados Unidos permanecem sujeitas às sobretaxas. No início da imposição, esse percentual era de 36%. O governo brasileiro avalia que, após o alívio para o agronegócio, os produtos industriais, especialmente os de maior valor agregado, são agora a principal preocupação, por terem mais dificuldade para encontrar mercados alternativos.
Outros temas da agenda bilateral
Além do comércio, os dois líderes conversaram sobre cooperação no combate ao crime organizado. A agenda de discussões entre os países também inclui temas não tarifários, como terras raras, o setor de big techs, energia renovável e o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata).
O recente diálogo entre Trump e Lula, que incluiu um encontro em outubro na Malásia e outros contatos telefônicos, tem sido apontado como influente para as decisões norte-americanas de revogar parte das tarifas. Em uma postagem em redes sociais após a conversa, Trump disse estar ansioso para ver e conversar com Lula em breve, afirmando que “muita coisa boa resultará desta parceria recém-formada!”.
O tom do diálogo também repercutiu na política interna brasileira. O deputado Eduardo Bolsonaro, que mudou sua postura, classificou como positiva a conversa entre os presidentes, ao mesmo tempo em que reiterou a defesa da legitimidade das sanções norte-americanas. As tratativas para a retirada de novos produtos da lista tarifada continuam em andamento entre as equipes técnicas dos dois países.