O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma declaração contundente sobre o futuro da região de Donbas, no leste da Ucrânia. Nesta quinta-feira, 4 de dezembro de 2025, ele afirmou que Moscou tomará o controle da área "de qualquer forma", seja por meio de ações militares ou através de um acordo diplomático.
Declaração à Índia e contexto das negociações
A ameaça foi feita em uma entrevista à revista indiana India Today, pouco antes de Putin ser recebido pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em Nova Déli. O líder russo declarou que "libertaria Donbas e Novorossiya de qualquer maneira – por meios militares ou outros". O termo "Novorossiya" (Nova Rússia) é uma referência histórica a territórios que já pertenceram ao Império Russo e foi usado por Putin em 2014 durante a anexação ilegal da Crimeia.
Esta declaração ocorre apenas dois dias após uma longa reunião em Moscou entre Putin e o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff. O encontro, que durou muitas horas, teve como foco a análise de propostas de paz para o conflito. Foi a sexta reunião presencial entre Witkoff e Putin, um fato que gera apreensão em Kiev e em capitais europeias.
O plano de paz de 28 pontos e as exigências russas
As negociações giram em torno de um conjunto de propostas vazado em novembro, conhecido como o plano de 28 pontos do governo Trump. De acordo com fontes, o plano prevê que a Ucrânia faça concessões territoriais significativas, atendendo a uma demanda central e imutável do Kremlin.
Putin admitiu que a discussão com Witkoff foi uma "tarefa difícil" e que não concorda com todas as partes da proposta americana. No entanto, ele reiterou as principais exigências russas para um fim do conflito:
- Cessão de aproximadamente 20% do território ucraniano.
- Abandono por parte da Ucrânia de sua pretensão de ingressar na OTAN.
- Desmilitarização de Kiev.
- Retirada das tropas ucranianas da região de Donbas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a Rússia está "grata a Trump por seus esforços", mas evitou comentários detalhados, alegando que publicidade excessiva não seria construtiva.
Reações e perspectivas futuras
Enquanto isso, representantes ucranianos, incluindo Rustem Umerov, chefe da delegação do país, e Andrii Hnatov, chefe do Estado-Maior, viajaram a Miami nesta quinta-feira para negociações paralelas com os Estados Unidos. O presidente Volodymyr Zelensky já rejeitou publicamente a ideia de ceder território ou se desmilitarizar.
Apesar da firmeza retórica de Putin, especialistas acreditam que a conquista militar completa de Donbas pode levar tempo. O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um observatório de conflitos com sede nos EUA, estima que as forças russas só conseguiriam assumir o controle total do oblast de Donetsk, parte de Donbas, em agosto de 2027.
O assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, revelou que Moscou recebeu originalmente um conjunto de 27 pontos e depois quatro documentos adicionais. A revelação de uma ligação telefônica entre Ushakov e o enviado americano Witkoff, na qual este último dava conselhos sobre as negociações, já havia causado mal-estar entre os aliados europeus da Ucrânia.
O cenário permanece complexo, com a Rússia insistindo nos objetivos de sua "operação especial" e as potências ocidentais tentando mediar um acordo que, até o momento, parece exigir sacrifícios consideráveis por parte da Ucrânia. A declaração de Putin deixa claro que, para o Kremlin, o resultado final em Donbas não é uma questão de "se", mas de "como".