Doutrina Monroe é reativada por Trump em nova Estratégia de Segurança Nacional
Nova estratégia de Trump retoma Doutrina Monroe

A recente estratégia de segurança dos Estados Unidos, divulgada pela Casa Branca, marca um retorno explícito a um princípio histórico da política externa americana: a Doutrina Monroe. O documento de 33 páginas, publicado no dia 4 de dezembro, reflete a visão do governo do presidente Donald Trump e estabelece a reafirmação da influência americana no hemisfério ocidental como uma prioridade fundamental.

O que é a "Doutrina Donroe"?

No documento, o governo Trump declara que, após anos de suposto abandono, os Estados Unidos "reafirmarão e aplicarão a Doutrina Monroe". Essa doutrina, proclamada originalmente em 1823 pelo então presidente James Monroe, defendia o princípio de "A América para os Americanos", buscando evitar a intervenção de potências europeias no continente.

A nova abordagem já foi apelidada de "Doutrina Donroe", uma combinação dos nomes Donald e Monroe, termo que surgiu na capa do jornal New York Post em janeiro e foi rapidamente adotado por analistas. Mais do que um plano detalhado, especialistas veem a medida como uma declaração de princípios que justifica uma postura mais intervencionista e de linha dura na região.

Interesses e Ameaças: A Visão de Trump sobre a América Latina

Para a administração Trump, os países latino-americanos são simultaneamente a origem de problemas e a chave para suas soluções. A nova estratégia identifica três focos principais:

A imigração ilegal é apontada como um desafio central, dado que metade dos imigrantes nos EUA vem do continente. O narcotráfico é outra grande preocupação, considerando que quase toda a cocaína consumida nos Estados Unidos tem origem na Colômbia, Peru e Bolívia.

Além disso, o documento menciona a necessidade de limitar "incursões estrangeiras hostis", uma referência clara, ainda que não nominal, à crescente influência da China na região. Em termos econômicos, Trump busca reconfigurar as cadeias de valor com a estratégia de nearshoring e consolidar acordos comerciais sob o lema "America First".

Punições e Recompensas: A Diplomacia do "Bastão e Cenoura"

A nova postura já se traduz em ações concretas, que alternam entre pressão militar e incentivos econômicos. Como exemplo de força dissuasória, o porta-aviões USS Gerald R. Ford permanece no Caribe desde novembro, numa clara mensagem ao governo da Venezuela. O documento chega a abrir a possibilidade do "uso de força letal" para substituir estratégias anteriores.

Por outro lado, os Estados Unidos adotam uma política de recompensas para aliados. Em outubro, Trump anunciou um resgate financeiro de US$ 20 bilhões para a Argentina. Em novembro, foram assinados acordos para reduzir tarifas de importação com Equador, El Salvador, Guatemala e a própria Argentina. O apoio a líderes alinhados, como o argentino Javier Milei, é parte dessa estratégia.

Analistas consultados pela BBC, como Will Freeman, do Conselho de Relações Exteriores, e Bernabé Malacalza, da Universidade Torcuato Di Tella, concordam que a chamada "Doutrina Donroe" enxerga a região principalmente como um local de ameaças. A prioridade, segundo eles, é evitar que esses perigos cheguem ao território americano, mais do que explorar as oportunidades de cooperação que o continente oferece.