Cúpula do Mercosul termina sem acordo com UE e expõe racha Brasil-Argentina
Mercosul sem acordo com UE e divisão sobre Venezuela

A 67ª Cúpula do Mercosul, realizada neste fim de semana, chegou ao fim sem a tão aguardada assinatura do acordo comercial com a União Europeia. O evento, no entanto, deixou um legado que vai muito além do comércio: expôs uma profunda divisão política entre seus dois principais membros, Brasil e Argentina, em torno da crise na Venezuela.

O Racha Geopolítico no Coração do Bloco

O presidente argentino, Javier Milei, adotou um discurso contundente durante a cúpula. Ele classificou o governo de Nicolás Maduro como uma "ditadura atroz e desumana" e declarou que "o tempo da abordagem tímida se esgotou". Em sua fala, Milei explicitamente saudou a pressão exercida pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para, em suas palavras, "libertar o povo venezuelano".

Do outro lado, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, posicionou-se de forma diametralmente oposta. Lula alertou que qualquer intervenção armada no país vizinho seria considerada "uma catástrofe humanitária" e criaria um precedente perigoso para a região. Para ele, as verdadeiras ameaças à soberania dos países vêm da guerra, de forças antidemocráticas e do crime organizado, defendendo uma solução pacífica baseada no direito internacional.

O Impasse Comercial que Persiste

Este racha político ocorre em um momento crítico para o futuro econômico do Mercosul. O acordo comercial com a União Europeia, negociado há anos, segue travado e não foi assinado durante a reunião. A indefinição adiciona uma camada extra de incerteza sobre a direção e a relevância do bloco no cenário global.

Inicialmente, Lula havia declarado que, se o tratado não fosse chancelado no sábado, ele não seria mais assinado pelo Brasil durante seu mandato. No entanto, o presidente brasileiro posteriormente amenizou o tom e indicou que aguardará uma nova oportunidade para a assinatura, possivelmente já em janeiro.

Futuro do Mercosul em Debate

A intersecção entre diplomacia, comércio e segurança regional se tornou o centro das atenções. As consequências desta divisão entre Brasil e Argentina para o posicionamento estratégico do Mercosul são profundas e preocupantes.

Este complexo cenário será tema de análise detalhada no programa Mercado, que vai ao ar a partir das 10h. A discussão terá foco no impasse com a União Europeia e nos desdobramentos geopolíticos do racha entre os dois maiores sócios do bloco, avaliando como isso impacta sua coesão e força de negociação no mundo.

A cúpula deixa claro que, mais do que barreiras tarifárias, são as barreiras ideológicas e de visão de mundo que atualmente desafiam o futuro do Mercosul, colocando em risco uma das maiores zonas de livre comércio do planeta.