Lula faz bate-volta de 9h para discurso de 5 minutos na Cúpula UE-Celac
Lula voa 9h para 5min de discurso contra EUA na Colômbia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou um verdadeiro bate-e-volta internacional neste domingo (9) para participar da 4ª cúpula entre a União Europeia e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (UE-Celac). A viagem relâmpago ocorreu em Santa Marta, na Colômbia, onde o mandatário brasileiro passou apenas três horas e 35 minutos após voar por quase nove horas.

Agenda intensa e discurso contra EUA

Lula deixou Belém no início do dia e retornou ao Brasil ainda no mesmo domingo, totalizando oito horas e 55 minutos de voo para uma estadia curta no Caribe colombiano. Seu discurso, programado para durar apenas cinco minutos, teve como foco principal a crítica à mobilização militar americana contra a Venezuela.

O presidente havia anunciado sua participação na semana anterior, afirmando que o evento só teria sentido se discutisse os navios de guerra enviados ao Caribe pelo presidente norte-americano Donald Trump. No entanto, a pauta oficial da cúpula, definida muito antes da crise atual entre Washington e Caracas, não mencionava os Estados Unidos, abordando apenas vagamente o tema "paz, segurança e prosperidade".

Cúpula esvaziada e ajustes de agenda

A chegada de Lula ocorreu por volta das 11h35 (horário do Brasil), e não no sábado à noite como inicialmente previsto. Sua presença foi considerada tão relevante que a tradicional "foto de família" com os líderes presentes foi atrasada em mais de uma hora para evitar sua ausência.

O evento enfrentou um significativo esvaziamento de participantes, com apenas dez governantes confirmados pelo governo colombiano. Entre os nomes de peso presentes estavam o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa.

Ausências notáveis marcaram o encontro: o presidente francês Emmanuel Macron, a primeira-ministra alemã Friedrich Merz, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen não compareceram. O presidente argentino Javier Milei sequer enviou um ministro de Estado.

Contexto político e divisões regionais

A fragmentação política da Celac, que reúne os 33 países latino-americanos e caribenhos, torna extremamente improvável que o grupo consiga costurar uma posição de consenso contra a campanha de pressão militar americana contra o governo de Nicolás Maduro.

Os Estados Unidos vêm realizando operações militares nas águas da América do Sul nos últimos meses, alegando combater o tráfico de drogas venezuelano - acusação sem comprovação de evidências. Esses ataques já resultaram na morte de pelo menos 66 pessoas no Caribe e no Oceano Pacífico.

A ação militar norte-americana, que inclui o envio de navios para o Caribe e caças para Porto Rico, é vista como uma forma de pressionar Maduro a deixar o poder. Trump afirma que o líder venezuelano comanda uma rede de tráfico de drogas chamada Cartel de los Soles, cuja existência é contestada por especialistas.

A Celac já havia enfrentado dificuldades recentes para debater a concentração de forças militares dos Estados Unidos na região. No início de setembro, durante reunião virtual, os países tentaram negociar um comunicado conjunto expressando "profunda preocupação com o recente destacamento militar extrarregional" na América Latina e Caribe.

O texto, que não fazia referência direta a Trump ou aos EUA, não foi assinado por países como Argentina, Paraguai, El Salvador e Peru, evidenciando as divisões políticas que dificultam uma posição unificada do bloco regional.