Expansão Militar Chinesa em Ritmo Acelerado
Uma investigação detalhada baseada em imagens de satélite e documentos públicos revelou que a China está expandindo rapidamente sua infraestrutura de produção de mísseis. A análise mostra que mais de 60% das 136 instalações vinculadas ao programa de mísseis do país passaram por ampliações significativas desde 2020.
Desde o início da década, o governo chinês vem transformando silenciosamente vastas áreas rurais, anteriormente dominadas por fazendas e vilarejos, em complexos industriais dedicados à produção de armamentos. O processo de expansão ocorre de forma constante e discreta, alterando completamente a paisagem de várias regiões do país.
Crescimento da Infraestrutura Militar
As novas construções identificadas pela investigação somam impressionantes 2 milhões de metros quadrados, incluindo hangares, túneis subterrâneos e estruturas especializadas para testes e montagem de mísseis. Em algumas imagens de satélite, é possível visualizar partes de foguetes em pátios e pistas de teste.
William Alberque, ex-diretor de controle de armas da Otan, comentou à CNN que "a China está se posicionando como uma superpotência global e já corre uma maratona militar". A declaração reflete a percepção internacional sobre a velocidade e escala do desenvolvimento militar chinês.
Contexto Estratégico e Orçamento
O crescimento da infraestrutura de mísseis ocorre paralelamente ao aumento consistente do orçamento militar chinês. Entre 2020 e 2025, os gastos militares cresceram cerca de 7% ao ano, atingindo US$ 245 bilhões (aproximadamente R$ 1,37 trilhão). Especialistas acreditam que o valor real seja significativamente maior que o anunciado oficialmente.
A Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular (PLARF), unidade responsável pelo arsenal nuclear chinês, recebeu prioridade na hierarquia de investimentos públicos. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), a China produz cerca de 100 novas ogivas nucleares por ano desde 2023, totalizando aproximadamente 600 unidades ativas.
Foco em Taiwan e Dissuasão
Analistas interpretam a expansão como um esforço de dissuasão estratégica, particularmente em relação à possibilidade de conflito com Taiwan. O território é reivindicado por Pequim como parte integrante da China, e o novo aparato militar desempenha papel central na estratégia batizada de "negação de acesso".
Decker Eveleth, analista do centro de pesquisas sobre segurança CNA, explicou que "eles estão se preparando para neutralizar qualquer tentativa de ajuda dos Estados Unidos à ilha". O escudo de mísseis tem como objetivo manter as forças americanas afastadas do Estreito de Taiwan.
O contraste com os Estados Unidos é evidente: enquanto a China expande sua capacidade produtiva, os americanos enfrentam desafios logísticos e escassez de munições de alta precisão devido ao fornecimento de artefatos bélicos para Ucrânia e Israel.
Turbulências Internas e Persistência
A expansão militar ocorre apesar de turbulências internas significativas. Nos últimos dois anos, diversos generais ligados à força de mísseis foram afastados por corrupção, incluindo dois ex-ministros da Defesa. Apesar dos escândalos, o programa de expansão segue em curso, reforçando a determinação chinesa em consolidar seu poderio militar.
Embora o arsenal nuclear chinês ainda permaneça abaixo dos estoques dos Estados Unidos e Rússia, seu crescimento é o mais rápido do mundo. A persistência na expansão, mesmo diante de desafios internos, demonstra a prioridade estratégica que o programa militar representa para o governo de Xi Jinping.
O movimento alimenta preocupações sobre uma potencial nova corrida armamentista global, com a China demonstrando capacidade e vontade de competir no cenário militar internacional.