A promessa central de Donald Trump na campanha eleitoral de 2024, de deportar milhões de imigrantes caso seja eleito, consolidou-se como o principal mote para mobilizar seu eleitorado e a base do Partido Republicano.
Comícios foram tomados por cartazes com frases como "deportem todos agora" e "proteja a fronteira", ecoando a fala do candidato de que imigrantes latino-americanos estariam "envenenando o sangue da nação americana". Analistas observam que a retórica do ex-presidente, mais radicalizada que no passado, encontrou terreno fértil entre os jovens republicanos.
Linguagem extremista e referências ao fascismo
Essa nova linguagem, desenvolvida em fóruns online e redes sociais, é classificada por especialistas como explicitamente extremista, racista e com características similares à propaganda de regimes fascistas do século XX. Joseph Nevins, geógrafo e especialista em imigração do Vassar College, em Nova York, destaca a mudança.
"Há um nível de racismo explícito e etnonacionalismo que, embora estivesse presente no primeiro mandato, foi muito exacerbado agora", afirma Nevins. "Existe a ênfase na superioridade de grupos de pessoas que são, de modo geral, de ascendência europeia."
O discurso oficial do governo Trump absorveu essa narrativa. O perfil no X (antigo Twitter) do Departamento de Segurança Interna (DHS), responsável pela campanha de deportações, frequentemente publica chamados de recrutamento que conclamam jovens a "proteger o Ocidente" e a "lutar pela América".
Inspiração em conteúdo supremacista e orçamento recorde
Para William Callison, cientista político da Universidade da Cidade de Nova York, a estética é voltada para a juventude e inspirada em conteúdos de extrema direita antes marginalizados. "Ao mesmo tempo, há a trajetória de uma política de extrema direita muito mais antiga, que valoriza um passado perdido, no mesmo sentido do fascismo", explica.
As publicações fazem referências diretas a ideias supremacistas. Uma delas, que diz "Para onde, homem americano? A América precisa de você: junte-se ao ICE agora", remete ao livro "Para onde, homem ocidental?" do supremacista branco William Gayley Simpson, que elogia Adolf Hitler.
Essa narrativa se conecta à teoria da conspiração da "grande substituição""Então, nesse sentido, o que é a América? É a branquitude", analisa Callison, sobre a ideia de uma cultura branca ameaçada.
Para executar a política de deportação em massa, o Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE) tem um plano ambicioso. Com um orçamento de US$ 30 bilhões previsto para 2026 – um aumento de 200% em relação a 2025 –, a agência pretende recrutar 30 mil agentes para expandir prisões e deportações.
Mudança de métodos e aumento da violência
Joseph Nevins ressalta que a política imigratória de Trump mudou significativamente em escala e métodos. "Está claro que, em tamanho e objetivos, a política imigratória de Trump mudou de forma significativa de seu primeiro mandato para agora", diz.
"Métodos como entrar em igrejas, sinagogas, escolas, prender crianças na frente dos pais... antes, eram tabu", completa o especialista. "Há agora um nível de violência que não víamos antes, e um desejo de comunicar aos imigrantes: não há lugar seguro para vocês."
A combinação de uma retórica radicalizada, inspirada em ideologias extremistas do passado, com uma máquina estatal robustecida por bilhões de dólares, marca um novo capítulo na abordagem dos Estados Unidos sobre imigração, com profundas consequências humanitárias e políticas.