Líder sírio Ahmed al-Sharaa visita Casa Branca em encontro histórico
Líder sírio visita Casa Branca em encontro histórico

Encontro histórico na Casa Branca

Nesta segunda-feira (10), ocorreu um momento histórico na política internacional quando Ahmed al-Sharaa, líder da Síria, chegou à Casa Branca para um encontro com o ex-presidente americano Donald Trump. Esta reunião marca quase um ano desde a queda do ditador Bashar al-Assad, que controlou o país por mais de duas décadas.

Mudança radical na trajetória síria

A visita simboliza uma transformação profunda tanto nas relações entre os dois países quanto na trajetória pessoal de Sharaa. Aos 42 anos, o sírio passou de combatente da organização terrorista Al-Qaeda para chefe de Estado reconhecido pelo Ocidente. Washington retirou Sharaa da lista de pessoas ligadas ao terrorismo poucos dias antes do encontro, gesto que representa uma guinada radical na política externa americana.

Sharaa assumiu o poder em dezembro do ano passado, após seus combatentes lançarem uma ofensiva-relâmpago a partir do noroeste sírio que resultou na derrubada de Assad. Desde então, o novo governo sírio se afastou dos antigos aliados Irã e Rússia e buscou reaproximação com Turquia, monarquias do Golfo e Estados Unidos.

Agenda de segurança e reconstrução

Questões de segurança dominaram o encontro na Casa Branca. Washington negocia um possível pacto de defesa entre Síria e Israel, que ainda demonstra desconfiança em relação ao passado do novo líder sírio. Também estão em discussão planos para a entrada do país em uma coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico.

A visita ocorre em um momento delicado para a segurança interna síria. Autoridades do país relataram que, nos últimos meses, dois complôs para assassinar Sharaa foram frustrados, ambos atribuídos ao EI. No fim de semana, o Ministério do Interior lançou uma ampla operação contra células do grupo extremista, resultando na detenção de mais de 70 suspeitos.

Trump expressou otimismo em relação ao novo líder sírio, afirmando na semana passada que "muito progresso foi feito" e elogiando Sharaa: "Ele está fazendo um ótimo trabalho. É uma vizinhança difícil, e ele é um cara duro, mas nos damos muito bem".

Após o primeiro encontro entre os dois líderes, em maio na Arábia Saudita, Trump anunciou a suspensão das sanções impostas a Damasco. A retirada completa dessas penalidades é prioridade para Sharaa, que busca atrair investimentos estrangeiros para reconstruir o país devastado por 14 anos de guerra civil. O Banco Mundial estima que a recuperação da Síria exigirá mais de US$ 200 bilhões.

Desafios internos e transformação pessoal

Internamente, o novo governo enfrenta enormes desafios. Conflitos sectários recentes deixaram mais de 2,5 mil mortos desde a queda de Assad, levantando dúvidas sobre a capacidade de Sharaa de governar efetivamente.

A trajetória pessoal do líder sírio reflete as mudanças dramáticas na política do país. Sharaa se juntou à Al-Qaeda no Iraque após a invasão americana de 2003 e passou anos preso por forças dos EUA. De volta à Síria, tornou-se um dos líderes da insurgência contra Assad, quando era conhecido como Abu Mohammad al-Golani.

Designado como terrorista em 2013, Sharaa rompeu com a Al-Qaeda em 2016 e consolidou sua influência no noroeste sírio. No fim de 2024, Washington retirou a recompensa de US$ 10 milhões por sua captura, e na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU suspendeu as sanções contra ele e seu ministro do Interior, Anas Khattab - movimento seguido por EUA e Reino Unido.

Especialistas enxergam a visita como um marco significativo. Firas Maksad, diretor para Oriente Médio e Norte da África do Eurasia Group, afirmou à Reuters: "A visita de Sharaa a Washington simboliza uma mudança drástica. A Síria deixou de ser um satélite do Irã para integrar o campo liderado pelos EUA".

Maksad acrescentou: "Muita coisa ainda pode dar errado, e há sérias preocupações sobre direitos individuais e das minorias, mas a primeira visita de um chefe de Estado sírio à Casa Branca é um momento de esperança de que o país esteja finalmente no caminho certo".