EUA planejam analisar 5 anos de redes sociais de visitantes sem visto
EUA vão analisar 5 anos de redes sociais de turistas

O governo dos Estados Unidos anunciou uma proposta que pode mudar a forma como milhões de turistas são recebidos no país. O plano prevê a análise de até cinco anos de histórico de publicações em redes sociais de visitantes originários de dezenas de países que têm direito a entrar nos EUA sem visto, pelo Programa de Isenção de Visto (Visa Waiver Program).

Os detalhes da nova proposta de fiscalização digital

A medida, que deve entrar em vigor em 8 de fevereiro de 2026, ainda está em fase de consulta pública, permitindo que cidadãos americanos enviem comentários nas próximas semanas. Entre as novas exigências, os solicitantes da autorização de viagem ESTA (Sistema Eletrônico para Autorização de Viagem) terão que informar todos os endereços de e-mail usados na última década.

Esta proposta é a mais recente de uma série de ações que tornam a fiscalização de entrada nos Estados Unidos mais rigorosa. Agora, o rastro digital deixado por um viajante pode ser motivo suficiente para barrar sua entrada ou até mesmo deportá-lo. Um caso emblemático ocorreu no início deste ano, quando um turista norueguês alegou ter sido impedido de entrar após autoridades examinarem seu celular e encontrarem um meme do vice-presidente J.D. Vance. A alfândega americana (CBP) nega a alegação, atribuindo a decisão ao "uso admitido de drogas" pelo viajante.

Desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro, a segurança das fronteiras tem sido reforçada, com justificativas de proteção à segurança nacional. Especialistas, no entanto, alertam que o novo plano pode desestimular viagens e criar um obstáculo adicional para turistas.

Impacto para brasileiros e outras categorias de visto

Embora a maioria dos brasileiros precise de visto para entrar nos EUA, isso não os deixa totalmente imunes a esse tipo de vigilância. Desde setembro de 2025, o governo americano já exige que solicitantes de vistos de não imigrante das categorias H1-B, H-4, F, M ou J ajustem as configurações de privacidade de todas as suas contas de redes sociais para "públicas".

Essas categorias abrangem funções especializadas, estudantes acadêmicos ou vocacionais, visitantes de intercâmbio, professores, pesquisadores e seus dependentes. Turistas com visto de categoria B-2, por enquanto, não estão incluídos nessa exigência específica, mas estão sujeitos à fiscalização de rotina na fronteira.

Donald Rothwell, professor de direito da Australian National University, destaca a vulnerabilidade dos viajantes no Programa de Isenção de Visto. "Essas pessoas têm pouquíssimos direitos na fronteira", alerta. "Ao se candidatarem, elas abrem mão de alguns direitos legais para contestar decisões da alfândega. Se um visitante se recusar a atender a uma solicitação de um agente, pode ter a entrada negada."

A tendência global e o conselho para viajantes

Os Estados Unidos não estão sozinhos nessa tendência de vigilância digital. Cada vez mais países monitoram a atividade online de viajantes. Em 2018, a Nova Zelândia aprovou uma lei permitindo que agentes de fronteira exigissem acesso a celulares, com multas pesadas para quem se recusasse. Nos Emirados Árabes Unidos, estrangeiros podem ser detidos por publicar conteúdo considerado difamatório.

O risco aumenta com o volume de conteúdo gerado por turistas, muitas vezes sem considerar normas locais ou contextos culturais. Casos como o de uma influenciadora russa deportada de Bali por um ensaio fotográfico nu sob uma árvore sagrada ilustram as consequências.

O conselho de especialistas é claro: tenha extremo cuidado com o que publica online, especialmente sobre política americana ou cidadãos dos EUA. A dica é observar o ambiente, integrar-se respeitosamente à cultura local e priorizar a qualidade das postagens, não a quantidade. No mundo digital das viagens, pensar antes de postar nunca foi tão crucial.