O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma medida que triplica o valor do incentivo financeiro oferecido a imigrantes em situação irregular que decidirem deixar o país de forma voluntária. O bônus, agora de US$ 3 mil (cerca de R$ 16,7 mil), é válido apenas para quem aceitar a proposta até o final de dezembro de 2025.
Oferta "limitada" e ameaça de deportação forçada
A secretária do Departamento de Segurança Interna, Kristi Noem, descreveu a ação como um ato de "generosidade" do contribuinte americano durante a temporada de Natal. Em comunicado, Noem afirmou: "Durante a temporada de Natal, o contribuinte americano está generosamente TRIPLICANDO o incentivo para deixar voluntariamente o país aqueles que estão aqui ilegalmente".
No entanto, a mensagem foi acompanhada de uma dura advertência. A secretária alertou que os imigrantes "devem aproveitar esse presente e se autodeportar, porque, se não o fizerem, nós os encontraremos, nós os prenderemos e eles nunca retornarão". Nas redes sociais, o próprio departamento classificou a iniciativa como uma "oferta de tempo limitado" e um "bônus para ir para casa para as festas", com um tom que lembra uma lista de presentes de Natal, porém ameaçadora: "Estamos riscando nomes da lista dos mal-criados. Não seja o próximo."
Para aderir ao programa, os interessados devem utilizar o aplicativo de celular CBP One, desenvolvido pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, que já oferece o serviço de autodeportação.
Intensificação da repressão em 2026
A medida ocorre no contexto de uma promessa de intensificação radical das políticas anti-imigração no próximo ano. O chamado "czar da fronteira" da Casa Branca, Tom Homan, prometeu à Reuters que os números de prisões e deportações "vão explodir" em 2026.
O plano conta com um reforço orçamentário massivo. O Congresso americano, controlado pelos republicanos, aprovou em julho um pacote que destina cerca de US$ 170 bilhões em recursos adicionais até setembro de 2029 para o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) e a Patrulha da Fronteira. Esse valor representa um salto expressivo em relação aos orçamentos anuais atuais, estimados em US$ 19 bilhões.
Os novos recursos permitirão:
- A contratação de milhares de agentes.
- A abertura de novos centros de detenção.
- O aumento do uso de cadeias locais para prisões.
- Parcerias com empresas privadas para localizar imigrantes sem documentos.
Além disso, o governo Trump revogou o status de proteção temporária de centenas de milhares de imigrantes haitianos, venezuelanos e afegãos, ampliando o grupo de pessoas passíveis de deportação. O presidente promete remover até 1 milhão de imigrantes por ano. Desde janeiro de 2025, cerca de 622 mil pessoas já foram deportadas, um recorde para o período.
Desgaste político e reação pública
A política de imigração agressiva, que é a principal bandeira do governo Trump, começa a mostrar sinais de desgaste. A aprovação pública do presidente sobre o tema caiu de 50% em março para 41% em meados de dezembro.
Parte da insatisfação se deve a táticas consideradas excessivas, como o uso de agentes federais mascarados, emprego de gás lacrimogêneo em áreas residenciais e a detenção de cidadãos americanos. Em Miami, cidade com grande população imigrante, os eleitores elegeram uma prefeita democrata após quase 30 anos, decisão atribuída em parte à rejeição das políticas federais.
Mike Madrid, estrategista republicano moderado, comentou: "Cada vez mais, as pessoas deixam de enxergar isso apenas como uma questão de imigração e passam a ver como violação de direitos, do devido processo legal e como uma militarização inconstitucional de bairros".
Os dados refletem uma mudança no perfil das detenções. Cerca de 41% das aproximadamente 54 mil pessoas detidas pelo ICE até o fim de novembro não tinham histórico criminal além de supostas infrações migratórias. Antes da posse de Trump, esse índice era de apenas 6%. O governo também passou a mirar imigrantes em situação legal, com ações durante entrevistas para green card e cancelamento de cerimônias de naturalização.
Enquanto o bônus de US$ 3 mil é apresentado como uma "saída voluntária" para 2025, as declarações das autoridades deixam claro que o ano de 2026 trará uma campanha de fiscalização e deportação ainda mais dura, apoiada por bilhões de dólares e uma força policial ampliada.