A tensão geopolítica entre os Estados Unidos e a Venezuela voltou a preocupar analistas financeiros e pode ter reflexos diretos na economia brasileira. A avaliação foi feita pelo sócio-fundador da GT Capital, Marcus Labarthe, em entrevista ao programa Mercado, apresentado por Veruska Donato, nesta segunda-feira, 2 de dezembro de 2025.
O Ultimato de Trump e a Reação de Maduro
O cenário de crise se intensificou após uma reportagem do New York Times revelar que o presidente americano, Donald Trump, teria pressionado o líder venezuelano, Nicolás Maduro, a deixar o país. A ameaça, segundo a publicação, seria de uma escalada militar no Caribe caso Maduro não aceitasse a proposta.
Em resposta, o ditador chavista realizou um comício em Caracas, onde exaltou o "amor à pátria" e reafirmou sua força política em um discurso considerado habitual pelo analista. "Para Labarthe, a reação de Maduro segue o roteiro do populismo", observou o especialista. "Ele faz discursos dizendo que está forte, que quer continuar à frente da Venezuela. Mas todos veem o que acontece: a população está fugindo do país".
Riscos para a Estabilidade Regional e o Brasil
O fluxo contínuo de venezuelanos para o Brasil e outros países vizinhos é apontado por Labarthe como um sinal irrefutável da deterioração interna da Venezuela. A combinação de crise política, colapso econômico e histórico de irregularidades eleitorais cria um quadro persistente há décadas. "Se o próprio povo deixa o país, não há discurso que sustente a ideia de normalidade", afirmou.
Para o mercado financeiro brasileiro, a preocupação é dupla:
- Impacto na estabilidade regional e novas ondas migratórias.
- Reflexos econômicos diretos, considerando que a Venezuela segue inadimplente em relação a empréstimos bilionários concedidos pelo Brasil no passado.
Labarthe expressou receio de que a situação "respingue no Brasil", citando possíveis efeitos em rotas marítimas no Caribe e alterações em fluxos comerciais e logísticos em caso de qualquer escalada militar, mesmo com a existência de poucos voos diretos entre os dois países.
O Cenário Mais Sensível: Asilo Político
O analista também alertou para um ponto particularmente delicado: a hipótese, considerada indesejável, de Maduro buscar asilo político em território brasileiro. "O ideal é que o país não seja visto como destino para um ditador declarado", disse Labarthe, destacando os riscos políticos e de imagem que tal cenário traria.
Apesar do tom desafiador em público, há indícios de que Maduro já estaria tentando negociar uma saída com o governo Trump, em um movimento para preservar seu próprio destino diante da pressão internacional crescente.
Diante desse quadro, a conclusão do especialista é de que a crise geopolítica deve manter a B3 sensível ao humor internacional. A incerteza gerada pelo conflito entre Washington e Caracas serve como um lembrete de como tensões em países vizinhos podem rapidamente se transformar em um fator de volatilidade para os investidores no Brasil.