Uma nova onda de protestos tomou conta de universidades iranianas nesta terça-feira, 30 de dezembro de 2025, ampliando um movimento iniciado por comerciantes contra a grave crise econômica que assola o país. Os estudantes saíram às ruas cantando por liberdade e enfrentaram forças de segurança, em um cenário de inflação galopante e desvalorização recorde da moeda nacional.
Crise econômica e pressão externa alimentam insatisfação
Os protestos estudantis ocorrem em um momento de extrema pressão para o governo iraniano. A moeda nacional atingiu mínimos históricos no último fim de semana, corroendo o poder de compra da população. Esta crise interna se intensifica apenas seis meses após um breve, porém intenso, conflito de 12 dias com Israel, que contou com a participação dos Estados Unidos em ataques a instalações nucleares iranianas.
Agora, os líderes em Teerã precisam estabilizar uma economia em queda livre enquanto lidam com ameaças externas renovadas. O presidente americano, Donald Trump, após se reunir com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, advertiu que os EUA apoiariam novas ações contra o Irã caso o país tente retomar seu programa nuclear. “Se isso se confirmar, eles conhecem as consequências, que serão muito poderosas, talvez mais que da última vez”, declarou Trump.
Em resposta, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, contra-atacou, alertando que qualquer invasão sofreria uma retaliação severa.
Universidades viram palco de protestos e confrontos
Os protestos se espalharam por pelo menos seis universidades na capital, Teerã, e também chegaram às cidades de Isfahan e Yazd. Relatos de veículos locais e redes sociais mostram estudantes entoando slogans como “Liberdade! Liberdade! Liberdade!” e “Não tenham medo! Estamos todos juntos”. Houve registros de confrontos entre manifestantes e forças de segurança nas proximidades da Universidade de Teerã.
Analistas observam uma mudança na postura do governo, que historicamente reprimiu protestos com violência. Diante do impacto econômico evidente e do amplo descontentamento, autoridades parecem buscar uma abordagem mais conciliatória. “Muitos líderes iranianos finalmente perceberam que ignorar as demandas da sociedade minou sua legitimidade e autoridade”, afirmou Esfandyar Batmanghelidj, diretor do think tank Bourse and Bazaar, com sede em Londres.
Diálogo e repressão: a estratégia dupla do governo
Na segunda-feira, o presidente Pezeshkian instruiu o ministro do Interior a abrir um canal de diálogo com os manifestantes. Na terça, ele se reuniu com líderes de sindicatos, câmaras de comércio e associações de classe para discutir a situação econômica. Uma porta-voz do governo anunciou a criação de um canal oficial de comunicação com organizadores dos protestos.
Paralelamente, setores do Estado mantêm um discurso de confronto, acusando os manifestantes de agirem a serviço de inimigos externos, principalmente Estados Unidos e Israel. A agência de notícias semioficial Tasnim afirmou que “meios e figuras sionistas” tentam desviar as demandas populares e transformar os protestos em caos.
Como medida concreta, universidades, órgãos públicos e centros comerciais serão fechados em 18 das 31 províncias do país nesta quarta-feira. A justificativa oficial é poupar energia e garantir segurança, mas a medida também tem o efeito claro de conter novas manifestações.
População sente o peso da crise no dia a dia
Enquanto a tensão política se mantém, a população enfrenta as consequências diretas da instabilidade. Comerciantes relatam que a volatilidade cambial e a inflação descontrolada dificultam até mesmo a venda de bens como ouro, carros e eletrônicos. A desconfiança nas autoridades só aumenta, elevando a pressão sobre um governo que tenta equilibrar a resposta interna e as relações internacionais em um cenário geopolítico cada vez mais tenso.
Economistas alertam que não existem soluções rápidas para a crise. O desafio para os líderes iranianos é monumental: conter a insatisfação popular, estabilizar a economia e navegar em um tabuleiro internacional hostil, onde as ameaças de Washington e Tel Aviv são constantes. O futuro próximo do Irã dependerá da capacidade do governo em lidar com essas múltiplas frentes de pressão.