O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, anunciou nesta quarta-feira (24) detalhes de uma nova proposta preliminar, negociada com os Estados Unidos, para encerrar o conflito com a Rússia. O ponto central é que o plano não obriga Kiev a renunciar formalmente à sua aspiração de ingressar na Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos americanos.
Otan segue como objetivo, mas decisão é do bloco
Zelenski foi enfático ao afirmar que a Ucrânia não modificará sua Constituição para incluir uma proibição de adesão à aliança. "Será a Otan quem decidirá se deseja ou não acolher a Ucrânia entre seus membros. E nossa decisão está tomada. Renunciamos a modificar a Constituição ucraniana", declarou o líder, referindo-se a uma versão anterior do plano americano que pedia esse compromisso legal.
A busca pela entrada na Otan sempre foi um dos principais pontos de discórdia, com a Rússia classificando a possível expansão do bloco como uma ameaça inaceitável e um dos motivos para a invasão iniciada em fevereiro de 2022.
Detalhes do plano e concessões obtidas
As negociações ocorreram em Miami, e Zelenski afirmou esperar uma resposta oficial da Rússia ainda nesta quarta-feira, após os americanos apresentarem os termos a Moscou. O acordo, um documento de 20 pontos consensado entre negociadores ucranianos e americanos, representa uma revisão de uma proposta anterior dos EUA que tinha 28 pontos e mantinha muitas exigências russas.
Entre as principais mudanças obtidas por Kiev estão:
- Não há retirada imediata das forças ucranianas da área que controlam na região de Donetsk, parte do Donbass.
- Não será reconhecida a anexação russa dos territórios ocupados.
- A frente de batalha nas regiões de Donetsk, Lugansk e Zaporíjia será congelada nas linhas de contato atuais na data do acordo.
O plano abre caminho para iniciativas antes rejeitadas por Kiev, como a criação de zonas desmilitarizadas. Zelenski citou a possibilidade de retirar cerca de 20% das tropas ucranianas de partes de Donetsk para estabelecer tal zona. A cidade de Enerhodar, próxima à usina nuclear de Zaporíjia, também é cogitada para se tornar uma área desmilitarizada.
Desafios territoriais e pressão por um acordo
Zelenski admitiu que há pontos no documento dos quais não gosta e que pode ser forçado a ceder em algumas exigências, especialmente territoriais, para manter o apoio militar crucial dos Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, tem pressionado por um acordo para pôr fim a uma guerra que se aproxima de quatro anos.
No entanto, a disposição do Kremlin para aceitar os novos termos é considerada baixa. A Rússia, que anunciou a anexação de quatro regiões ucranianas e da Crimeia, mantém exigências por amplas retiradas militares ucranianas. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, limitou-se a dizer que Moscou está "formulando sua posição".
Outros pontos do plano incluem a defesa de uma administração conjunta (americana, russa e ucraniana) da usina de Zaporíjia e a realização de eleições presidenciais na Ucrânia após a assinatura de um eventual acordo de paz, demanda de Trump e do presidente russo, Vladimir Putin. Zelenski ressaltou que qualquer plano envolvendo retirada de tropas para criar zonas desmilitarizadas ou econômicas especiais deverá ser submetido a um referendo nacional.