O governo da China elevou publicamente sua crítica às operações navais dos Estados Unidos no Caribe, classificando a apreensão de petroleiros venezuelanos como uma violação grave do direito internacional. A declaração ocorre em meio a um cerco naval americano à Venezuela ordenado pelo presidente Donald Trump, que já resultou na captura de duas embarcações e na perseguição a uma terceira.
Crítica formal de Pequim e apoio a Caracas
Em coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, 22 de dezembro de 2025, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, foi enfático em sua condenação. "A apreensão arbitrária de embarcações de outros países pelos Estados Unidos é uma grave violação do direito internacional", afirmou Lin.
O diplomata chinês acrescentou que Pequim se opõe a quaisquer sanções unilaterais ilegais que não tenham a autorização do Conselho de Segurança da ONU. Ele também rejeitou ações que infrinjam a soberania e a segurança de outras nações, caracterizando-as como atos de intimidação.
Lin Jian ainda expressou o apoio explícito da China ao governo venezuelano e à sua luta para proteger seus direitos e interesses legítimos. A posição tem base econômica sólida: a China é o maior comprador do petróleo bruto venezuelano, absorvendo cerca de 4% de suas importações totais, o que equivale a uma média de mais de 600 mil barris por dia. Há anos, Pequim mantém acordos de empréstimo em troca de petróleo com Caracas.
A escalada das operações navais no Caribe
A manifestação chinesa foi uma resposta direta à intensificação das ações americanas. No domingo, 21 de dezembro, a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, anunciou a apreensão de um segundo petroleiro venezuelano que estava atracado no país.
Além disso, a imprensa americana noticiou que a Guarda Costeira dos Estados Unidos está perseguindo um terceiro navio-tanque no Mar do Caribe. A ação tem base em um mandado de apreensão expedido por um juiz federal. Segundo os relatos, a embarcação estaria navegando sob bandeira falsa e teria se recusado a permitir a abordagem, continuando sua rota e forçando a perseguição.
Esta ofensiva faz parte de uma ordem de "bloqueio total e completo" anunciada por Trump na semana anterior, direcionada a todos os petroleiros sancionados que entram ou saem da Venezuela. O presidente americano declarou que a nação sul-americana estava "completamente cercada pela maior armada já reunida na história da América do Sul".
Impacto nos mercados e justificativas americanas
A repressão aos carregamentos de petróleo venezuelano teve um efeito imediato no mercado global. Os preços do barril de crude subiram repentinamente, com o índice de referência Brent atingindo US$ 61,46, uma alta de mais de 1,6%. Esse movimento interrompeu uma tendência de queda que havia feito os preços ficarem abaixo de US$ 60 pela primeira vez em meses, impulsionada pelo otimismo com um possível fim do conflito entre Rússia e Ucrânia.
A justificativa americana para o cerco é multifacetada. Trump afirmou que a medida é necessária porque a venda de petróleo venezuelano financia, em sua visão, "o tráfico de drogas, o tráfico de pessoas e o terrorismo". Ele também ameaçou designar o regime de Nicolás Maduro como uma organização terrorista estrangeira e exigiu que Caracas devolvesse "petróleo, terras e outros ativos" que teriam sido roubados, sem fornecer detalhes específicos.
O cenário geopolítico permanece tenso, com a China posicionando-se como um contraponto diplomático e económico crucial para a Venezuela, enquanto os Estados Unidos ampliam sua pressão máxima. A situação ilustra um conflito internacional complexo onde direito marítimo, sanções económicas, mercados de energia e soberania nacional se entrelaçam de forma explosiva.