A revista britânica The Economist publicou nesta quarta-feira, 26 de novembro de 2025, uma análise abrangente sobre o cenário político brasileiro após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a publicação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva emerge como o maior beneficiário do legado caótico deixado por seu antecessor.
Prisão histórica e fragmentação da direita
Na véspera da publicação da reportagem, Bolsonaro começou a cumprir efetivamente a pena de 27 anos e três meses na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. A condenação refere-se a crimes relacionados à trama golpista, incluindo tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada.
A The Economist destacou que a prisão marca o fim da longa saída de Bolsonaro da política. O veículo lembrou que em 2023, o ex-presidente já havia sido impedido de ocupar cargos públicos por oito anos devido a abuso de poder e uso da mídia estatal para disseminar informações falsas sobre as urnas eletrônicas.
"Mesmo com a inelegibilidade, Bolsonaro insistiu em tentar concorrer. Outros candidatos de direita, ansiosos para disputar as eleições gerais do ano que vem em outubro, permaneceram à sua sombra. Com menos de um ano para as eleições, a direita brasileira não tem um líder claro", analisou a publicação.
Reviravolta política e relações internacionais
A revista apontou que a própria família Bolsonaro contribuiu significativamente para a reviravolta na sorte da direita brasileira. O episódio citado foi a viagem de Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos, que resultou na aplicação de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo Trump.
Donald Trump justificou as medidas como resposta ao que chamou de "caça às bruxas" contra Bolsonaro pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal. Enquanto Lula classificava a família Bolsonaro como "traidores da pátria", os políticos de direita enfrentavam um dilema: precisavam se dissociar das impopulares tarifas, mas também demonstrar apoio a Bolsonaro, cuja bênção ainda era considerada essencial para qualquer candidato competitivo.
O cenário se complicou ainda mais quando, no dia 7 de setembro, milhares de apoiadores de Bolsonaro marcharam em São Paulo carregando uma gigantesca bandeira americana, um simbolismo que gerou controvérsia no cenário político nacional.
Mudança na relação Trump-Lula
A tentativa da direita de responsabilizar Lula pela incapacidade de negociar o fim das tarifas americanas rapidamente perdeu força conforme Trump e Lula se aproximavam. O ponto de virada ocorreu durante o encontro entre os dois líderes na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, quando o presidente americano afirmou que ambos tiveram uma "excelente química".
Posteriormente, Trump recuou nas tarifas para uma ampla gama de produtos brasileiros. "Ele parece ter praticamente esquecido Bolsonaro", constatou a The Economist sobre a mudança de postura do líder americano.
Novas estratégias e desafios futuros
Com a perda de terreno em questões de soberania, tarifas e impostos, a direita brasileira começou a mirar no que identifica como ponto fraco de Lula: a segurança pública. A reportagem mencionou a megaoperação no Rio de Janeiro que resultou na morte de 130 pessoas, e a declaração do presidente brasileiro sugerindo que os traficantes eram vítimas dos usuários de drogas, que "gerou indignação" na opinião pública.
Possíveis candidatos conservadores - substitutos naturais de Bolsonaro - têm apostado em retóricas similares às do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, amigo de Trump e alvo de críticas de organizações internacionais por violações de direitos humanos.
A The Economist alertou, contudo, que muita coisa ainda pode dar errado para Lula. A maioria dos brasileiros acredita que o político de 80 anos não deveria se candidatar novamente. Sua reforma do imposto de renda pode aumentar a inflação ao estimular o consumo excessivo. Se a segurança pública piorar, ele poderá ser visto como leniente com o crime.
Romeu Zema, governador de Minas Gerais e pré-candidato à presidência, argumenta que a esquerda "depende totalmente de Lula", enquanto a acirrada competição na direita "prova que ela é melhor em formar bons líderes".
"A longo prazo, isso pode ser verdade. Mas, por enquanto, o maior beneficiário do legado caótico de Bolsonaro é Lula", concluiu a análise da prestigiada publicação britânica.