Motta e Lindbergh Farias se reaproximam após crise na Câmara
Motta e Lindbergh Farias zeram jogo após desentendimentos

Em um movimento estratégico às vésperas do recesso parlamentar, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) enterraram o machado da guerra. Após meses de conflitos públicos, os dois se reaproximaram em um encontro realizado na sexta-feira (19), na residência oficial da presidência da Casa.

Da crise à reconciliação

A relação entre os dois parlamentares havia atingido seu ponto mais baixo em novembro, após uma série de desentendimentos sobre a condução dos trabalhos na Câmara. O estopim foi a escolha do relator para o projeto antifacção, considerado a principal resposta do governo Lula à crise de segurança pública após a megaoperação no Rio. Motta designou para a relatoria o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o que desagradou profundamente a bancada petista.

As tensões, no entanto, já existiam antes. A equipe de Hugo Motta reclamava da atuação de Lindbergh Farias, acusando-o de tentar desgastar a imagem da Casa perante a opinião pública. A situação se deteriorou ainda mais quando Motta decidiu pautar o projeto que reduzia as penas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. A proposta foi aprovada com apoio da oposição e de parte da base governista.

Irritado, Lindbergh foi à tribuna e declarou que Motta estava "perdendo as condições de continuar" no cargo e que poderia responder por crime de responsabilidade. O presidente da Câmara rebateu nas redes sociais, afirmando que precisava "proteger a democracia do grito, do gesto autoritário, da intimidação travestida de ato político".

O reencontro e o "jogo zerado"

Com o passar do tempo e após a cassação dos mandatos dos ex-deputados Carla Zambelli (PL-SP), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), o clima começou a esfriar. Os dois voltaram a conversar por telefone, culminando no encontro presencial desta sexta-feira.

O diálogo serviu para apaziguar as divergências. Eles conversaram sobre a crise, os desentendimentos em torno das pautas polêmicas e prometeram manter um canal de comunicação mais aberto no futuro. Combinaram até de tentar se encontrar no fim do ano na Paraíba, estado natal de Motta e também da família de Lindbergh Farias.

Em declaração à reportagem, Lindbergh foi enfático: "Nunca tive problemas pessoais com o Hugo. Minhas divergências foram as pautas, que foram muito duras, como a dosimetria, o PL antifacção e a cassação do [deputado] Glauber Braga". Ele se mostrou otimista: "Acho que a relação no próximo ano será muito melhor".

Hugo Motta ecoou o sentimento, afirmando à Folha que o problema nunca foi pessoal, mas de discordância sobre o mérito dos projetos e de alguns comportamentos. A conversa, segundo ele, serviu para "zerar o jogo". "Tenho enorme respeito pela bancada do PT", completou o presidente da Câmara.

Contexto político e futuro

A reaproximação tem um claro objetivo político: garantir uma relação mais fluida com a bancada do PT, maior partido da base governista. Lindbergh Farias segue como líder da bancada até o dia 2 de fevereiro, quando o Congresso retorna do recesso e o deputado Pedro Uczai (PT-RS) assumirá o cargo.

Entretanto, mesmo deixando a liderança formal, Lindbergh deve manter sua influência. Ele é um dos petistas com maior presença nas redes sociais e é marido da ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pasta-chave para a articulação política do governo.

O movimento de pacificação ocorre em um momento de definições para o próximo ano legislativo e mostra a intenção de Hugo Motta de reduzir as fricções internas para governar a Câmara com menos atritos.