
Eis que o cenário político brasileiro dá uma dessas reviravoltas que deixam até os mais veteranos de cabelo em pé. A popularidade do presidente Lula, que parecia nadando contra a corrente no fim do ano passado, deu um pulo digno de campeonato. A pergunta que não quer calar: o que diabos aconteceu?
Pois é, dois fatores surgiram como uma luva para o Planalto. O primeiro, e talvez o mais saboroso para a base petista, veio de fora. A perspectiva assustadora de um retorno triunfal de Donald Trump aos holofotes globais, e aqui mesmo, o fantasma do bolsonarismo mais raivoso, fizeram algo curioso. De repente, Lula passou a ser visto por uma parcela dos indecisos não como uma opção ideal, mas sim como um mal necessário, um diabo conhecido frente a um abismo muito mais tenebroso. A rejeição à dupla Trump-Bolsonaro atuou, ironicamente, como um poderoso adubo para a imagem do presidente.
Mas não foi só isso, claro. Política sem pão na mesa é enfeite de vitrine. E aí entrou o segundo ator principal dessa virada: o alívio no bolso do cidadão. Após um período de aperto que fez todo mundo torrar o orçamento no mercado, os preços de itens essenciais da cesta básica finalmente começaram a ceder. A queda no valor da comida é daquelas coisas que o povão sente na hora, no dia a dia. E esse alívio concreto, tangível, se traduziu diretamente em um fôlego novo para a avaliação do governo.
Os Números que Contam a História
Os dados são eloqüentes e não deixam muita margem para dúvida. A taxa de aprovação do presidente, que estava num patamar mais baixo, disparou. A reprovação, por sua vez, murchou. E o mais interessante? O número daqueles que se declaravam “indecisos” ou “não sabiam” responder sumiu feito água no deserto. Esse eleitor flutuante, a tal da “maioria silenciosa”, parece ter encontrado uma motivação – ou melhor, duas – para tomar partido.
Não se engane, porém. Apesar do clima de otimismo no Palácio do Planalto, a situação está longe de ser um mar de rosas. A economia ainda patina em setores cruciais, e os ânimos no Congresso continuam mais voláteis do que o humor de adolescente. A sensação geral é que Lula conseguiu, sim, um respiro importantíssimo. Um daqueles fôlegos que podem definir os rumos dos próximos meses.
Mas, como bem sabemos na política, uma semana é um tempo infinito. O que hoje é vento a favor, amanhã pode ser uma tempestade perfeita. A grande lição dessa jogada? Que na política, às vezes, você não precisa necessariamente ser amado. Basta que os outros sejam temidos o suficiente para você parecer a melhor – ou menos pior – opção na mesa. E a economia, claro, sempre terá a palavra final.