A provável reeleição de Lula em 2025 representa muito mais do que uma vitória da esquerda - ela evidencia uma crise profunda que atinge a direita brasileira. O cenário atual contrasta fortemente com o passado recente, quando a direita parecia dividir com a esquerda o apoio da população brasileira.
Os pilares da crise atual
O que explica esse declínio tão acentuado da direita e da extrema direita brasileira, especialmente considerando que ainda contam com apoio dos grandes meios de comunicação, têm apoios internacionais e se beneficiam da força residual do modelo neoliberal e sua ideologia de mercantilização do mundo?
O primeiro e mais fundamental problema é que a direita brasileira não tem o que apresentar ou propor aos brasileiros. Que futuro, perspectiva ou alternativa ao tipo de governo da esquerda - que tanto criticam - podem oferecer? Mesmo em temas tradicionalmente de sua preferência, como a violência, limitam-se a propostas vazias ou exibicionistas, como a política de segurança que produziu mais de cem mortos promovida pelo governador de São Paulo.
Estratégias que saíram pela culatra
Outro erro estratégico crucial foi subir no carro do "Tarifaço" de Donald Trump. A direita brasileira acreditava que essa medida levaria à catástrofe do governo Lula e os transformaria nos legítimos representantes do governo dos Estados Unidos no Brasil.
Porém, o tiro saiu pela culatra. A estratégia fez com que aparecessem como traidores da pátria, enquanto presentearam Lula com o papel de defensor da soberania nacional, atacada pelo governo norte-americano.
O dilema do bolsonarismo
Além desses fatores, o bolsonarismo tornou-se uma algema que prende pelos pés e pelo coração todos os setores da direita brasileira, que hoje é, em sua essência, bolsonarista.
Os partidos e lideranças de direita não conseguem resolver o dilema fundamental: como herdar o apoio que o bolsonarismo ainda mantém e, ao mesmo tempo, distanciar-se dele em aspectos mais bizarros e radicais? A incapacidade de unir a direita sob uma única direção torna essa crise ainda mais aguda.
O caso de Tarcísio Freitas ilustra perfeitamente esse impasse. O mais provável candidato da direita não consegue se decidir entre tentar a candidatura à presidência - enfrentando uma provável derrota diante do favoritismo de Lula, mas se promovendo como possível candidato para 2030 - ou buscar a reeleição em São Paulo para não se tornar um político sem cargo.
Mesmo nesse segundo cenário, Tarcísio provavelmente terá que enfrentar Geraldo Alckmin, que deve ser o candidato de um Lula com prestígio até mesmo em São Paulo.
Perspectivas para o futuro
Diante da provável reeleição de Lula para um quarto mandato, a direita brasileira começa a se concentrar mais nas eleições parlamentares. O objetivo é tentar manter o controle sobre a Câmara dos Deputados e uma forte presença no Senado Federal.
Essa estratégia visa repetir o esquema atual: atrapalhar, tanto quanto possível, o governo Lula. No entanto, nem mesmo essa perspectiva está assegurada.
A desmoralização do Congresso atual e de seus dirigentes dificulta a reprodução da presença que a direita mantém atualmente. Além disso, setores do chamado Centrão, movidos pelo oportunismo que os caracteriza, já começam a se aproximar do governo Lula, reconhecendo que terão que enfrentar pelo menos mais um mandato do presidente atual.
Se a direita brasileira teve um passado com certo peso político, vive agora um presente contraditório e enfrenta um futuro duvidoso. Essa situação facilita a hegemonia política da esquerda, representada por Lula e pelo PT, que parece destinada a dominar o cenário político nacional pelos próximos anos.