Clã Bolsonaro em movimento: ruídos na direita antes da prisão do ex-presidente
Clã Bolsonaro gera ruídos na direita antes da prisão

O cenário político da direita brasileira vive momentos de tensão e expectativa enquanto se aproxima a data que pode definir o futuro do bolsonarismo. Com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro marcada para breve, seus familiares intensificam movimentações para demonstrar relevância no jogo eleitoral.

Encontro decisivo e a corrida contra o tempo

Na quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, Jair Bolsonaro, atualmente em prisão domiciliar, terá um encontro crucial com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O ex-presidente solicitou pessoalmente esta reunião "na data mais breve possível", reconhecendo a necessidade de um diálogo direto em meio à iminência de seu encarceramento.

Há uma possibilidade real de que, até esta data, Bolsonaro já esteja cumprindo a pena de 27 anos de reclusão à qual foi condenado pelo processo da trama golpista. Esta circunstância aumenta significativamente a importância do encontro, que é visto nos bastidores da oposição a Lula como um ponto de virada para definir os rumos da direita rumo às eleições de 2026.

A expectativa geral é que, finalmente, o ex-presidente indique seu apoiado na corrida presidencial, sendo Tarcísio o favorito. No domingo, 16 de novembro, o governador paulista animou seus apoiadores ao publicar nas redes sociais a frase: "Troca o CEO que Brasil volta a funcionar".

Os ruídos familiares que preocupam a direita

O relativo otimismo convive, entretanto, com a apreensão em torno das movimentações político-eleitorais do clã Bolsonaro, que podem colocar em risco os planos deste bloco à direita.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL-SP, tem se tornado um fator de desagregação crescente desde que se autoexilou nos Estados Unidos em março deste ano. Sua cruzada contra o Supremo Tribunal Federal e o país, numa tentativa de livrar o pai da cadeia, gerou atritos significativos.

Nas últimas semanas, Eduardo criticou publicamente os governadores Mauro Mendes (Mato Grosso) e Romeu Zema (Minas Gerais), além do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e do próprio Tarcísio de Freitas. O parlamentar foi taxativo ao afirmar que "sem um Bolsonaro na chapa não tem acordo para 2026".

Tornado réu pelo Supremo no dia 15 de novembro, acusado de coação no curso do processo e outros crimes relacionados à sua atuação nos EUA, Eduardo mantém influência por sua capacidade de mobilizar parte do eleitorado bolsonarista raiz e uma base barulhenta no Congresso.

As alternativas em jogo dentro da família

Nos últimos dias, Eduardo passou a insinuar que poderia apoiar seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), uma hipótese que ganha força nos bastidores políticos. A mensagem de Paulo Figueiredo, fiel escudeiro de Eduardo nos Estados Unidos, deixou claro este cenário: "Flávio ou Eduardo, pouco importa. O que importa é uma candidatura que realmente represente o nosso movimento".

Na última segunda-feira, 17 de novembro, os dois irmãos viajaram juntos a El Salvador, onde realizaram encontros sobre combate à criminalidade com autoridades locais, incluindo o ministro da Justiça, Gustavo Villatoro.

Flávio possui vantagens em relação a Eduardo para uma eventual candidatura presidencial: mantém contatos frequentes com o pai, é considerado seu porta-voz no mundo político e tem bom trânsito com o Centrão, incluindo Tarcísio. A mais de um interlocutor, o senador já admitiu que pode concorrer ao Planalto, se assim o pai decidir.

Michelle Bolsonaro: a opção feminina

Outra movimentação que inquietou os bastidores políticos ocorreu no final de outubro, quando a deputada Bia Kicis (PL-DF) organizou um grande ato para sua candidatura ao Senado pelo Distrito Federal. O evento contou com a presença de figuras como Valdemar Costa Neto, Flávio Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Observadores políticos enxergaram neste palanque um projeto mais ambicioso. Até então, se desenhava uma dobradinha com Michelle e o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), disputando as duas cadeiras no Senado. A entrada de Bia Kicis na corrida foi interpretada como uma maneira de garantir uma vaga do PL na Casa Alta, especialmente se Michelle integrar uma chapa presidencial.

Com o marido condenado e enfrentando a iminência da prisão, Michelle ganha força como sua sucessora política. Líderes do Centrão consideram imbatível uma candidatura formada por ela e um governador de centro-direita, preferencialmente com Tarcísio de Freitas na cabeça da chapa.

A espera pela decisão de Bolsonaro

Qualquer articulação, vale ressaltar, dependerá do aval do ex-presidente. A ala mais radical e fiel a ele reconhece que a postura de Eduardo afasta aliados ao centro, mas acredita que isso não afetará o caminho da direita porque a decisão final será de Bolsonaro.

O pastor Silas Malafaia, um dos maiores apoiadores do ex-presidente, foi direto: "O que A, B ou C falam é irrelevante. Não quero saber se é filho ou não. Quem decide é Bolsonaro".

Já o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, amigo de Bolsonaro, defende que Eduardo tenta evitar que a centro-direita se imponha sobre o bolsonarismo: "Querem domesticar a direita e indicar candidatos da direita permitida".

Enquanto isso, nomes como o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, mantêm discrição. Romeu Zema, que foi atacado por Eduardo, lançou sua pré-candidatura pelo Novo, mas não é descartado para uma composição de chapa como vice, visando garantir votos em Minas Gerais, estado que costuma decidir eleições presidenciais.

Para Mayra Goulart, professora de ciência política da UFRJ, a escolha de alguém do clã como substituto seria uma forma eficaz de mostrar proximidade entre o líder da direita e seu escolhido: "Trata-se de um capital eleitoral muito marcado por vínculos afetivos e familiares. Então o sobrenome pode funcionar para fazer uma transferência mais eficaz dos votos".

O bolsonarismo raiz segue, assim, tentando dar as cartas enquanto o jogo político se aproxima do momento decisivo que pode redefinir o futuro da direita brasileira.