Carlos Bolsonaro mantém candidatura ao Senado por SC, cenário que gera racha na direita
Carlos Bolsonaro mantém candidatura ao Senado por SC

A decisão de Carlos Bolsonaro (PL) de manter sua candidatura ao Senado por Santa Catarina, mesmo após a abertura de uma vaga no Rio de Janeiro com a entrada do irmão, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na corrida presidencial, está sendo interpretada por políticos do centrão como um possível sinal de mudança nos planos da família. Para esses grupos, a movimentação indica que Flávio ainda poderia recuar da disputa pelo Planalto, um cenário que, no entanto, é negado pelos bolsonaristas.

O plano familiar e a mudança para Santa Catarina

Com Flávio Bolsonaro sendo apontado como favorito à reeleição ao Senado pelo Rio, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) traçou a estratégia de transferir Carlos para Santa Catarina. O objetivo declarado era ampliar a presença da família no Congresso, criando uma bancada mais forte para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a condenação do patriarca no caso dos atos golpistas.

Flávio anunciou no dia 5 de junho ter sido escolhido pelo pai como candidato à Presidência, com a missão de dar continuidade ao "projeto de nação". Apesar do espaço que se abriu no Rio e dos conflitos que sua candidatura geraria em Santa Catarina, Carlos seguiu adiante. Seis dias após o anúncio do irmão, ele renunciou ao mandato de vereador no Rio e transferiu seu título eleitoral para São José, na região metropolitana de Florianópolis.

Aliados do filho mais novo de Bolsonaro afirmam que a candidatura é irreversível e que não fazia sentido adiar a mudança. Carlos já mantém vínculos com o estado, frequentando há anos um clube de tiro em São José e cultivando um grupo de amigos local. Ele também tem percorrido o estado em reuniões e eventos com potenciais eleitores e líderes políticos.

Ao renunciar no Rio, Carlos Bolsonaro fez um discurso emocionado na Câmara Municipal, afirmando amar o estado, mas partir "com a serenidade de quem sabe que está atendendo a uma missão maior". "Vou para Santa Catarina para cumprir um chamado que não poderia realizar aqui. Não é uma fuga, é a continuidade de uma luta", declarou.

O racha na direita catarinense e as especulações do centrão

A migração de Carlos Bolsonaro para Santa Catarina causou um racha significativo na direita local. O governador Jorginho Mello (PL) planejava a reeleição do senador Esperidião Amin (PP) e a candidatura da deputada Caroline De Toni (PL). Com a imposição de Carlos na chapa por indicação do ex-presidente, uma das vagas terá que ser cedida a ele.

Em 2026, duas cadeiras do Senado estarão em disputa no estado. Com a entrada de Carlos, Caroline De Toni deve ser preterida e já cogita mudar de partido para se manter na disputa. O próprio Carlos tem defendido o apoio ao nome dela, mas a dobradinha forçada desagradou o grupo que apoia Amin. A federação entre PP e União Brasil ameaça romper com o governador caso a candidatura de Amin seja prejudicada. Até mesmo integrantes do PL passaram a criticar a mudança de Carlos.

Diante desse cenário conturbado, políticos do centrão avaliam que o natural seria Flávio Bolsonaro rever seus planos e concorrer ao Senado pelo Rio, na vaga que o irmão deixou. O fato de isso não estar ocorrendo é lido por eles como um sinal de que a candidatura presidencial de Flávio pode ser retirada no futuro, para apoiar um nome com mais chances de derrotar o presidente Lula. O favorito deste grupo seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Justificativas familiares e cenário carioca congestionado

Aliados de Carlos Bolsonaro, contudo, descartam qualquer movimento de recuo e afirmam que ele pretende mudar de vida. O senador Flávio Bolsonaro endossou essa versão em entrevista à CBN na sexta-feira, 12 de junho. "Carlos tem esse sonho de Santa Catarina, ele ama aquele estado, ele vive lá há vários e vários anos. Ele já faria esse movimento independente de qual fosse a minha decisão", disse.

Bolsonaristas também argumentam que o cenário para o Senado no Rio de Janeiro está mais congestionado e competitivo. Entre os possíveis candidatos estão o governador Cláudio Castro (PL), o líder do partido no Senado, Carlos Portinho, que busca a reeleição, e outras lideranças locais como o deputado federal Sóstenes Cavalcante e os deputados Altineu Cortes, Hélio Lopes e Carlos Jordy.

Santa Catarina é um dos estados mais bolsonaristas do país, o que é visto como um trunfo para uma candidatura majoritária. Em 2022, Jair Bolsonaro obteve 69,3% dos votos válidos no segundo turno no estado, contra 30,7% de Lula. Foi por Santa Catarina que outro filho, Jair Renan, foi eleito vereador em Balneário Camboriú em 2024, pouco depois de se mudar de Brasília.

Procurados pela reportagem, Carlos e Flávio Bolsonaro não retornaram os contatos. A movimentação da família continua a gerar análises e a definir os rumos das alianças para as eleições de 2026.