COP30: Líderes mundiais se reúnem em Belém em meio a promessas e desafios climáticos
COP30 em Belém: avanços e desafios climáticos globais

COP30: Entre promessas e realidade climática

A Cúpula dos Líneres que antecedeu a COP30 em Belém revelou um cenário ambivalente para o futuro do clima global. O evento, encerrado na sexta-feira, 7 de novembro de 2025, reuniu 57 chefes de Estado e governo na capital paraense, mas ficou marcado pela ausência notável dos líderes das três maiores economias poluidoras do mundo.

Presenças e ausências significativas

O encontro registrou o menor quórum numa COP desde 2019, com a falta do presidente americano Donald Trump, do líder chinês Xi Jinping e do primeiro-ministro indiano Narendra Modi. Esta ausência coletiva reflete as tensões geopolíticas atuais e levantou questionamentos sobre o compromisso real das maiores nações emissoras.

Nas redes sociais, críticos do governo brasileiro já batizaram o evento de "FLOP30", expressando ceticismo sobre os resultados concretos que poderão ser alcançados. Entretanto, participantes e observadores preferem manter uma perspectiva positiva diante dos avanços anunciados.

Discurso firme e cobranças necessárias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu um tom de realismo otimista durante sua participação. Em discurso na sessão plenária sobre transição energética, cobrou dos países ricos o cumprimento das promessas financeiras feitas desde o Acordo de Paris em 2015.

"O Acordo de Paris fez dez anos e ainda não cumpriu o que prometeu. Os que mais poluíram precisam pagar a conta da transição", afirmou Lula, recebendo aplausos da plateia, mas também gerando cautela nos bastidores sobre a implementação prática dessas demandas.

Iniciativas brasileiras em destaque

O Brasil demonstrou liderança ao anunciar a Coalizão Global de Mercados de Carbono, uma iniciativa que conta com apoio da China, União Europeia, Reino Unido e África do Sul. Segundo o Itamaraty, esta não é um acordo fechado, mas um "movimento político" para influenciar as regras do Artigo 6 do Acordo de Paris.

Outro avanço significativo foi o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), com aportes iniciais de aproximadamente US$ 5,5 bilhões em recursos públicos e privados. O fundo será gerido por um consórcio internacional que inclui BID, Banco Mundial e bancos públicos brasileiros.

Laurence Tubiana, ex-negociadora do Acordo de Paris, comentou: "É um passo na direção certa, mas precisamos ver como será implementado. O Brasil ganhou visibilidade, mas agora precisa provar que tem estrutura técnica e política para entregar."

Desafios internos e resistências

No plano doméstico, o evento reacendeu tensões políticas. Parlamentares da oposição têm barrado propostas de descarbonização no Congresso, argumentando que podem "prejudicar a competitividade da indústria e do agronegócio".

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou abertamente o evento, afirmando que "a COP virou palanque internacional de Lula" e questionando os custos de sediar a conferência em Belém.

O caminho à frente

A Cúpula dos Líderes cumpriu seu papel de reabrir o diálogo entre Norte e Sul global, mas não garantiu respaldo financeiro ou político sólido para os compromissos assumidos. A COP30 herda este ambiente de otimismo cauteloso, onde o protagonismo brasileiro será testado contra sua capacidade de execução prática.

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, resume o momento: "A crise climática deixou de ser uma previsão. Se conseguirmos fazer de Belém o ponto de virada entre promessas e resultados, o país deixará de ser apenas o palco dos impactos para se tornar protagonista das soluções."

Belém, símbolo da Amazônia e dos desafios da transição justa, prepara-se agora para o teste definitivo: transformar prestígio diplomático em ações concretas contra a emergência climática.