O Homem que Desafiou o Nobel: A Incrível História de Le Duc Tho, o Único a Recusar o Prêmio da Paz
Le Duc Tho: o único que recusou o Nobel da Paz

Imagine a cena: outubro de 1973, o comitê do Nobel anuncia os vencedores do prestigiado prêmio da paz. Dois nomes. Um soa familiar - Henry Kissinger, o todo-poderoso secretário de Estado americano. O outro? Le Duc Tho, praticamente um desconhecido para o ocidente. E então acontece o impensável.

Enquanto Kissinger aceitava a honraria, o vietnamita fazia história ao virar as costas para o comitê. Sim, você leu direito. Ele simplesmente recusou. Até hoje, meio século depois, permanece como a única pessoa no planeta a ter essa coragem - ou essa teimosia, dependendo do ponto de vista.

Quem Era Esse Homem que Desdenhou a Glória?

Le Duc Tho não era nenhum novato na arte da guerra e da diplomacia. Nascido em 1911 no que ainda era a Indochina Francesa, ele praticamente cresceu na resistência. Aos 18 anos já estava fundando o Partido Comunista Indochinês. Passou anos em prisões francesas - uma escola dura para qualquer revolucionário que se preze.

Quando a guerra contra os Estados Unidos esquentou, ele estava lá, nos bastidores, coordenando a estratégia militar do Vietnã do Norte. Um tipo sério, de poucas palavras, mas com uma determinação de aço. Alguém que preferia a sombra aos holofotes.

Os Acordos de Paris - Uma Paz que Não Era Paz

As negociações em Paris foram um verdadeiro cabo de guerra que durou quase cinco anos. Cinco anos! Tho e Kissinger se encontraram secretamente 68 vezes. Sessenta e oito reuniões entre dois homens que representavam mundos completamente diferentes.

O acordo que surgiu em janeiro de 1973 parecia, na superfície, um triunfo da diplomacia. Os EUA se retirariam do Vietnã. Os prisioneiros de guerra seriam libertados. Mas havia um detalhe crucial - e aqui está o busílis da questão toda.

As tropas do Vietnã do Norte permaneceriam no Sul. A guerra, na prática, continuaria. Era como dar um curativo num ferimento que ainda sangrava por dentro.

A Recusa que Ecoou pelo Mundo

Quando o Nobel chegou, a reação de Tho foi típica do homem: direta e sem rodeios. Ele argumentou que a paz real ainda não existia no Vietnã. Como aceitar um prêmio pela paz quando a guerra continuava matando seu povo?

Foi um tapa na cara da comunidade internacional. Enquanto muitos criticaram sua decisão - afinal, quem recusa um Nobel? - outros viram nisso um ato de incrível integridade. Ele preferiu a coerência à glória.

Dois anos depois, em 1975, tanques do Norte entravam em Saigon. A guerra finalmente acabava, mas sob termos bem diferentes daqueles discutidos em Paris.

O Legado de um Homem que Marchou ao Seu Próprio Som

Le Duc Tho morreu em 1990, aos 79 anos, sem nunca se arrepender de sua decisão. Enquanto Kissinger via seu prêmio cada vez mais questionado - muitos acadêmicos pediram sua devolução -, a postura de Tho ganhava certo respeito retrospectivo.

Ele nos deixou uma lição perturbadora: às vezes, dizer "não" pode falar mais alto do que aceitar todos os "sim" do mundo. Num planeta obcecado por reconhecimento e fama, sua recusa soa quase como um ato revolucionário em si mesmo.

E assim permanece, meio século depois: uma figura enigmática que preferiu a sombra da história à luz dos holofotes. Alguém que entendeu que algumas convicções não têm preço - nem mesmo o de um Nobel.