As autoridades da Tailândia e do Camboja marcaram uma nova rodada de negociações para a próxima semana, em uma tentativa de restabelecer a paz na conturbada fronteira entre os dois países. O anúncio ocorre após o fracasso de um acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos em julho, que durou apenas alguns dias, e de mais de duas semanas de confrontos armados intensos.
O colapso do acordo e as acusações mútuas
O chanceler tailandês, Sihasak Phuangketkeow, afirmou que o acordo firmado em julho, com a mediação do presidente norte-americano Donald Trump, foi feito de forma precipitada e sob pressão externa. Segundo ele, Washington teria imposto um cronograma político para que o anúncio ocorresse durante a visita de Trump à região, o que resultou em um entendimento sem bases sólidas na realidade do terreno.
"Às vezes fomos apressados porque os Estados Unidos queriam o acordo assinado a tempo da visita do presidente", declarou o chanceler. Desde o colapso da trégua, os dois países trocam acusações sobre a responsabilidade pela retomada das hostilidades, que incluem o uso de artilharia pesada e ataques aéreos. O governo do Camboja ainda não se pronunciou oficialmente sobre as críticas feitas por Bangkok.
Impacto humanitário e preocupação regional
Os combates já provocaram um custo humano devastador. De acordo com autoridades locais, ao menos 41 pessoas morreram e cerca de 900 mil civis foram forçados a abandonar suas casas nas áreas próximas à fronteira, configurando uma grave crise humanitária.
A situação dominou os debates da última reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia. O chanceler malaio, Mohamad Hasan, alertou para os impactos regionais do conflito, destacando a necessidade de considerar as implicações mais amplas para as populações. Este é considerado o confronto mais grave entre países-membros do bloco desde sua fundação, em 1967, expondo publicamente suas limitações para mediar disputas internas.
Caminho para uma nova trégua e o papel das potências
Antes de qualquer avanço diplomático mais substancial, está marcado para o dia 24 de dezembro um encontro entre comandantes militares tailandeses e cambojanos. Phuangketkeow descreveu esta reunião como decisiva para avaliar a viabilidade de um novo cessar-fogo.
Enquanto isso, potências globais buscam influenciar o processo. Além dos Estados Unidos, a China também tenta assumir um papel de mediadora. O enviado especial de Pequim para assuntos asiáticos, Deng Xijun, visitou recentemente a capital cambojana, Phnom Penh, e o governo chinês afirma manter esforços diplomáticos para facilitar o diálogo.
A disputa territorial entre Tailândia e Camboja é histórica, remontando a mais de um século, com episódios esporádicos de violência. As tensões atuais se intensificaram em maio, após a morte de um soldado cambojano, e explodiram definitivamente em julho, quando um ataque com foguetes contra território tailandês desencadeou uma resposta aérea e dias de combates intensos, cujas consequências ainda estão longe de um fim.