Os governos da Tailândia e do Camboja anunciaram, neste sábado, 27 de dezembro de 2025, um cessar-fogo imediato para pôr fim aos violentos confrontos na fronteira comum, que duraram três semanas. O acordo bilateral foi formalizado por meio de uma declaração conjunta, assinada pelos ministros da Defesa dos dois países.
Detalhes do acordo de paz na fronteira
O comunicado oficial, divulgado pela agência de notícias AFP, estabelece que a trégua entrou em vigor às 5h00 GMT (2h de Brasília). O texto detalha que as partes se comprometem a permitir o retorno seguro e digno dos civis que foram forçados a abandonar suas casas nas áreas afetadas. Centenas de milhares de pessoas, que viviam em barracas ou abrigos de emergência desde o reinício dos combates em 7 de dezembro, agora têm a esperança de passar o Ano Novo em seus lares.
Além da proteção aos civis, o acordo inclui pontos cruciais para a desescalada do conflito: o congelamento das posições militares, a retirada de minas terrestres das áreas limítrofes e o início de uma cooperação policial para combater crimes cibernéticos. Como gesto de boa vontade, Bangcoc se comprometeu a libertar 18 soldados cambojanos detidos, após 72 horas de cessar-fogo efetivo.
Um conflito histórico com alto custo humano
Os recentes combates, que envolveram o uso de artilharia, tanques, drones e aviões de combate, romperam uma trégua anterior que havia sido mediada. De acordo com os balanços oficiais, 47 pessoas perderam a vida nas três semanas de hostilidades: 26 do lado tailandês e 21 do lado cambojano. O número total de deslocados chegou à marca de um milhão de pessoas, um cenário humanitário crítico.
A raiz do conflito é antiga e complexa, envolvendo uma disputa pela demarcação de uma fronteira de 800 quilômetros, herdada do período colonial, e pela soberania de uma série de templos antigos situados na linha divisória. O templo de Preah Vihear, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, é um dos pontos de maior tensão.
Ceticismo e esperança entre a população
Enquanto as lideranças celebram o acordo, parte da população que fugiu da violência demonstra cautela. Oeum Raksmey, de 22 anos, que se abrigou com a família na província cambojana de Siem Reap, disse à AFP que ficou "muito feliz" com a notícia, mas ainda tem medo de voltar para casa. "Ainda não confio na parte tailandesa", confessou.
Do lado tailandês, o ministro da Defesa, Nattaphon Narkphanit, afirmou que os três primeiros dias serão um "período de observação" para confirmar o compromisso com a paz. Em discurso, ele classificou a trégua como a "porta para uma resolução pacífica". O primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, pediu confiança: "Podem confiar na Tailândia. Sempre respeitamos nossos acordos".
O longo caminho para uma paz duradoura
Apesar do otimismo com o anúncio, a durabilidade do cessar-fogo permanece incerta. Este é o terceiro acordo do tipo anunciado em meses. Um conflito de cinco dias em julho deixou 43 mortos antes de uma trégua, e um novo acordo foi assinado em Kuala Lumpur em 26 de outubro, na presença do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. No entanto, a Tailândia suspendeu esse acordo semanas depois, após soldados seus serem feridos por uma mina.
A pressão internacional, especialmente da China, Malásia e dos membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), foi fundamental para que os dois países aceitassem um diálogo direto nesta semana. Enquanto as questões fundamentais de demarcação e soberania não forem resolvidas de forma definitiva, o risco de novos confrontos seguirá pairando sobre a região.