
Os números chegam como um soco no estômago, difíceis de digerir numa tarde qualquer. A gente até tenta processar, mas a mente se recusa a aceitar a dimensão real do que significam 64 mil crianças.
Parece abstracto, não é? Até você fechar os olhos e imaginar estádios de futebol lotados só de crianças. Todas elas, vítimas de uma guerra que não escolheram.
O retrato da devastação
O UNICEF — aquela organização que a gente sempre associa à esperança — trouxe na terça-feira (8) um daqueles relatórios que doem só de ler. A situação em Gaza atingiu um patamar tão crítico que até os mais experientes em crises humanitárias parecem estar sem palavras.
Catherine Russell, a diretora-executiva da agência, não conseguiu disfarçar a comoção ao falar sobre o assunto. "O nível de sofrimento é algo que nunca vi antes", confessou ela, com aquela voz pesada de quem já viu de tudo, mas ainda se surpreende com a capacidade humana de causar dor.
Números que doem
Vamos tentar dimensionar essa tragédia:
- Mais de 14 mil crianças mortas — um número que cresce a cada hora
- Quase 50 mil pequenos corpos marcados por ferimentos
- Incontáveis traumas psicológicos que vão durar gerações
E o pior? Esses são só os casos que conseguiram ser documentados. A realidade no terreno — caótica, despedaçada — sugere números ainda mais assustadores.
O inferno dos sobreviventes
Quem não morre, enfrenta um calvário que desafia a imaginação. O sistema de saúde em Gaza — que já era frágil — está praticamente de joelhos. Hospitais destruídos, médicos exaustos, medicamentos escassos.
As crianças que sobrevivem aos bombardeios muitas vezes precisam de amputações, cirurgias complexas, tratamentos longos. E tudo isso acontece num cenário onde até uma aspirina se tornou artigo de luxo.
É como tentar apagar um incêndio florestal com um copo d'água — a metáfora pode ser batida, mas é a que melhor descreve a sensação de impotência dos trabalhadores humanitários no local.
Além dos corpos feridos
E não são só ferimentos físicos. A guerra roubou das crianças gazenses coisas básicas que toda criança merece:
- O direito de brincar sem medo
- O sono tranquilo sem pesadelos
- A escola, os amigos, a normalidade
- Até a simples certeza de que haverá comida no prato no dia seguinte
Russell foi direta ao ponto: "As crianças de Gaza estão pagando o preço mais alto por um conflito que não criaram". A frase ecoa como um lamento, misturando indignação com uma tristeza profunda.
O apelo que ninguém ouve
Enquanto isso, os apelos por cessar-fogo humanitário parecem cair no vazio. A ONU e outras organizações não cansam de pedir, de implorar, de negociar. Mas os combates continuam, implacáveis.
E as crianças — sempre as crianças — ficam no meio do fogo cruzado, literal e figurativamente. São reféns de uma disputa geopolítica complexa, reduzidas a números em relatórios que a maioria das pessoas vai ler rapidamente antes de seguir com seu dia.
Talvez o mais cruel seja a normalização dessa tragédia. A gente se acostuma com as manchetes, os números deixam de chocar, a compaixão cansa. E é exatamente contra isso que o UNICEF tenta lutar — manter viva a chama da indignação perante o inaceitável.
Enquanto escrevo estas linhas, mais crianças estão sendo feridas em Gaza. O relógio não para, e o custo humano dessa guerra só aumenta. Resta a pergunta que não quer calar: até quando?