
O que se vê nas ruas de Gaza neste sábado é daquelas cenas que misturam alívio e apreensão numa dose difícil de digerir. Enquanto o segundo dia do cessar-fogo segue firme — contra todas as expectativas, diga-se de passagem — mais de meio milhão de palestinos estão retornando à Cidade de Gaza. Uma movimentação humana que lembra aqueles formigueiros quando a chuva passa.
As estradas estão simplesmente abarrotadas. Carros, caminhões, carroças puxadas por burros, gente a pé carregando o pouco que conseguiu salvar. É uma volta para o desconhecido, porque muitos não sabem sequer o que encontrarão onde antes eram suas casas.
Do outro lado da fronteira
Enquanto isso, em Israel, a atmosfera é completamente diferente. Nas ruas de Tel Aviv, uma vigília silenciosa tomou conta. Centenas de pessoas se reuniram, segurando fotos dos entes queridos que continuam nas mãos do Hamas. São rostos que viraram símbolos de uma dor que não arrefece com o cessar-fogo.
"A gente fica nesse limbo estranho", me contou uma senhora que preferiu não se identificar. "Por um lado, aliviada que os combates pararam. Por outro, com o coração na mão pensando no que meu filho deve estar passando nesse exato momento."
Os números que impressionam
Os dados são realmente impressionantes — e um tanto assustadores, se formos parar para pensar:
- Mais de 500 mil pessoas já voltaram para a região norte
- O fluxo começou ainda de madrugada e não parou
- Muitos retornam a pé, já que o transporte é escasso
- A maioria busca verificar o estado de suas propriedades
E o que encontram? Bem, as imagens que chegam mostram uma cidade transformada num amontoado de escombros. Prédios que parecem ter passado por um triturador gigante, ruas que viraram labirintos de concreto e aço retorcido.
Uma trégua que pende por um fio
O acordo — frágil como vidro fino — prevê uma pausa de cinco dias nos combates. Já se vão dois, e o mundo todo segura a respiração torcendo para que dure. Do lado israelense, a pressão pela liberação dos reféns cresce a cada hora que passa.
Nas redes sociais, as opiniões se dividem feito faca. Uns celebram o retorno como uma vitória, outros temem que seja apenas um respiro antes da tempestade. A verdade é que ninguém sabe ao certo o que o amanhã trará.
Enquanto isso, a vida — ou o que restou dela — tenta renascer entre os escombros de Gaza. E em Israel, as velas continuam acesas nas vigílias, iluminando rostos marcados por uma espera que já dura demasiado.