Rússia acusa Ucrânia de atacar residência de Putin com 91 drones
Ataque com drones a residência de Putin abala negociações

A Rússia acusou formalmente a Ucrânia de ter realizado um ataque massivo com drones contra uma das residências oficiais do presidente Vladimir Putin. O incidente, que teria envolvido 91 drones, ocorreu nesta segunda-feira (29), em um momento crucial, um dia após o encontro entre o líder ucraniano, Volodimir Zelenski, e o ex-presidente americano Donald Trump para discutir um acordo de paz.

Negociações em risco após incidente

O governo ucraniano, por meio do presidente Zelenski, negou a autoria do ataque direto à residência, uma postura semelhante à adotada em ocasiões anteriores, como no ataque ao Kremlin em maio de 2022. Zelenski alertou que a Rússia usaria o episódio como justificativa para atacar edifícios do governo ucraniano. Observadores militares já indicam que bombardeiros estratégicos russos Tu-22 estão sendo armados com mísseis de cruzeiro para uma possível retaliação.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, informou à imprensa estatal que todos os drones foram abatidos na região de Novgorod, próxima a São Petersburgo, a aproximadamente 600 km da fronteira com a Ucrânia. Ele afirmou que não houve danos, mas foi enfático ao prometer uma "dura retaliação". Lavrov também declarou que a ação provocará uma mudança na posição da Rússia nas negociações mediadas pelos Estados Unidos, que até agora não superaram as divergências entre as partes.

O alvo: a residência de Valdai

O local atacado, segundo as autoridades russas, é um antigo complexo conhecido como "Dolgie Borodi" (Barbas Longas) ou simplesmente Valdai, nome do lago onde está situado. A propriedade, uma das favoritas de Putin, é composta por três datchas (casas de campo tradicionais) e tem capacidade para hospedar até 320 pessoas, sendo usada principalmente como retiro de verão.

O paradeiro exato do presidente russo é frequentemente mantido em segredo. Imagens divulgadas pelo Kremlin mostravam Putin em Moscou no dia do ataque, comandando uma reunião com seus principais generais, que apresentaram um balanço positivo dos ganhos territoriais neste ano. Durante a reunião, Putin teria dado ordens explícitas para concentrar esforços na tomada da capital da província de Zaporíjiia, uma das quatro regiões anexadas ilegalmente em 2022.

Impacto nas frágeis conversas de paz

O novo incidente, independentemente de sua autoria real, ameaça impactar profundamente as já delicadas negociações. Zelenski afirmou nesta segunda-feira que ainda há discordâncias sobre as questões territoriais, mas revelou que Trump lhe prometeu garantias de segurança contra uma nova ação russa por 15 anos, sem detalhar o mecanismo para tal acordo.

As tratativas até então focavam na estratégica região de Donetsk, no leste. A Rússia controla cerca de 80% da área, e Zelenski se recusa a ceder os 20% restantes, uma exigência reiterada pelo Kremlin. Os americanos, por sua vez, tentam uma solução intermediária, propondo a criação de uma zona desmilitarizada.

Este não é o primeiro ataque direto a uma propriedade associada a Putin. O episódio mais emblemático ocorreu em maio de 2022, quando drones explodiram sobre o Kremlin. A Ucrânia nunca assumiu a responsabilidade, embora seus serviços de segurança sejam amplamente creditados pelo ato, inclusive por aliados americanos. O conflito, apesar de sua brutalidade, não viu até agora uma tentativa russa declarada de assassinar Zelenski com um ataque devastador, uma possibilidade que o próprio Putin chegou a sugerir no ano passado.

O ataque com drones a Valdai adiciona uma nova camada de complexidade a um processo de paz já repleto de desconfiança. Enquanto Kiev teme uma retaliação iminente e acusa Moscou de encenar um ataque de "falsa bandeira", o governo russo se vê pressionado a demonstrar força, colocando em risco os frágeis avanços diplomáticos.