A cena política de Santa Catarina, considerado um dos estados mais conservadores do Brasil, enfrenta uma crise sem precedentes entre antigos aliados. O motivo? A possível candidatura de Carlos Bolsonaro ao Senado Federal pelo estado catarinense nas eleições de 2026.
O nó da sucessão no Senado
Santa Catarina, com seus 5,5 milhões de eleitores, nunca foi governado pela esquerda e não elege um senador petista desde 2002. Nas últimas eleições presidenciais, sete em cada dez catarinenses votaram em Jair Bolsonaro, consolidando a fama de eleitorado bolsonarista.
Por ironia, justamente o desejo do ex-presidente de ver o filho Carlos como senador pelo estado mergulhou a direita local em uma crise. O governador Jorginho Mello (PL) e o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, já tinham acertado que uma vaga seria do PL e a outra do senador Esperidião Amin (PP), que busca a reeleição.
A candidata natural do PL seria a deputada federal Caroline De Toni, aliada de longa data do bolsonarismo. Porém, para abrir espaço para Carlos Bolsonaro, ela foi descartada pelo governador e pela cúpula partidária.
A solução que virou problema
Diante da resistência em sacrificar Caroline De Toni, o clã Bolsonaro começou a apostar na dobradinha "Car-Car" - Carlos e Caroline na mesma chapa. Nesse cenário, quem ficaria de fora seria justamente Esperidião Amin, criando um novo impasse político.
Desde então, Carlos Bolsonaro, natural do Rio de Janeiro, tem percorrido Santa Catarina em busca de apoio, visitando mais de uma dezena de cidades nas últimas semanas, quase sempre acompanhado de Caroline De Toni.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro deixou claro o posicionamento da família: "os pré-candidatos de Jair Bolsonaro ao Senado Federal são Carol e Carlos Bolsonaro", afirmou em suas redes sociais.
As consequências da crise
A resistência à chapa pura do PL mobiliza o entorno do governador Jorginho Mello. Candidato à reeleição, ele precisa manter a base da Assembleia Legislativa, pulverizada por quase uma dezena de siglas, incluindo o PP de Esperidião Amin.
O governador corre contra o tempo para consolidar apoios, pois enfrenta o risco de perder partidos para uma candidatura de oposição no mesmo campo conservador: o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), que aparece competitivo em pesquisas.
Enquanto isso, Caroline De Toni já ameaçou deixar o PL e migrar para o Novo caso sua candidatura não seja respeitada. A deputada estadual Ana Campagnolo, a mais votada em 2022 com quase 200 mil eleitores, criticou a imposição de Carlos Bolsonaro: "O ex-presidente impõe ao estado mais ideológico do Brasil a aceitação passiva de uma pré-derrota".
As críticas irritaram o clã Bolsonaro, que reagiu através de Eduardo Bolsonaro: "As declarações são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público. No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou".
Até a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro se manifestou: "Estou fechada com Carol De Toni, independentemente da sigla partidária", declarou, mostrando que as divisões atingem até mesmo a família Bolsonaro.
O esforço de Jair Bolsonaro para eleger Carlos tem um objetivo mais amplo - conquistar maioria para a direita no Senado - e outro mais particular: fortalecer o poder da família em um momento difícil. O plano original era emplacar Michelle, Carlos, Flávio e Eduardo no Congresso, mas isso está cada vez mais complicado.
Carlos Bolsonaro, que há sete mandatos consecutivos é vereador no Rio de Janeiro, vai testar sua força eleitoral fora de casa. Pode até se eleger, mas com certeza não será sem muito barulho e custos políticos para as alianças catarinenses.