As universidades dos Estados Unidos enfrentam a maior redução no ingresso de estudantes internacionais em mais de dez anos. Os dados alarmantes, divulgados pelo Instituto de Educação Internacional (IIE) nesta segunda-feira, 17 de novembro de 2025, revelam uma queda de 17% nas matrículas de novos alunos estrangeiros no ciclo acadêmico atual.
Impacto das políticas migratórias
O declínio acentuado representa uma continuação da tendência negativa observada no ano anterior, quando o número de ingressantes já havia diminuído 7,2% durante a transição entre as administrações Biden e Trump. Desde seu retorno à Casa Branca, o presidente republicano Donald Trump implementou uma série de medidas que afetaram diretamente o ensino superior americano.
Entre as ações que contribuíram para essa situação estão o cancelamento de entrevistas em consulados, a revogação de vistos existentes, deportações e restrições orçamentárias impostas a universidades que não se alinham com as diretrizes do governo federal.
Barreiras burocráticas e preocupações políticas
De acordo com o levantamento do IIE, 57% das instituições consultadas confirmaram ter perdido alunos estrangeiros neste ano, com mais de um quarto relatando quedas consideradas substanciais em suas matrículas internacionais.
Os problemas com vistos, que já eram citados por 85% das universidades em 2024 como um obstáculo significativo, tornaram-se praticamente unânimes em 2025. Agora, 96% das instituições apontam os atrasos e negativas no processo de visto como a principal barreira para o ingresso de estudantes internacionais.
Além das dificuldades burocráticas, dois terços dos estudantes demonstraram receio de estudar nos Estados Unidos devido ao atual ambiente político e social do país.
Consequências econômicas e competitividade global
O impacto econômico preocupa profundamente o setor educacional. A Nafsa, principal associação de educadores internacionais, estima que os estudantes estrangeiros movimentem US$ 42,9 bilhões anualmente nos Estados Unidos e sustentem mais de 355 mil empregos em todo o país.
"Estamos diante de sinais claros de que o fluxo global de talentos para os EUA está em risco", alertou Fanta Aw, diretora-executiva da entidade, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. "Outros países estão aproveitando a oportunidade para atrair quem antes priorizava o mercado americano."
A administração Trump tem adotado uma postura deliberada para reduzir a presença de alunos internacionais, que atualmente representam aproximadamente 6% do total de estudantes no ensino superior americano. Em agosto, o governo propôs limitar o tempo de permanência de portadores de visto estudantil, e o próprio presidente chegou a tentar impedir universidades de elite, como Harvard, de admitir estrangeiros.
Instituições acusadas pelo governo de tolerar atos considerados antissemitas também enfrentam ameaças de corte de verba. A Columbia University, epicentro de protestos pró-Palestina no ano passado, só recuperou seus US$ 400 milhões em financiamentos federais após aceitar mudanças exigidas pela administração Trump.
O cenário atual representa um desafio significativo para a educação superior americana, tradicionalmente considerada uma das mais atrativas do mundo para estudantes internacionais.