Emicida recebe título de Doutor Honoris Causa pela UFRGS em cerimônia histórica
Emicida vira Doutor Honoris Causa na UFRGS

O rapper, cantor e compositor Leandro Roque de Oliveira, mundialmente conhecido como Emicida, recebeu um dos maiores reconhecimentos acadêmicos do país. No último sábado, dia 29 de junho, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) concedeu a ele o título de Doutor Honoris Causa em uma cerimônia emocionante realizada no Salão de Atos, em Porto Alegre.

Um reconhecimento à cultura e à diversidade

A honraria coloca o artista paulistano ao lado de gigantes da cultura brasileira como Gilberto Gil e Elza Soares, que também foram agraciados com a distinção em outras instituições. O título de Doutor Honoris Causa, cuja expressão em latim significa "por causa da honra", é concedido por universidades a personalidades que realizaram contribuições notáveis para a ciência, as artes, a cultura ou a humanidade, sem a necessidade de possuírem um doutorado acadêmico formal.

A proposição para a concessão do título partiu da Faculdade de Educação da UFRGS, em conjunto com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e coletivos de estudantes negros da universidade. A indicação recebeu aprovação unânime do Conselho Universitário (Consun), que fundamentou sua decisão na potência da cultura hip-hop e no papel fundamental da juventude negra e periférica na construção de uma sociedade mais justa.

Discurso pela educação e pelo futuro do Brasil

Em seu discurso durante a cerimônia, Emicida expressou a importância de receber uma homenagem de uma universidade pública. O artista fez referência ao poeta Oliveira Silveira, um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra, e a outros ícones gaúchos, destacando a coragem da instituição em fazer esse tipo de reconhecimento.

"Vamos produzir um amanhã que não seja o ontem com um novo nome. Se comprometer com um país que a gente gostaria de viver todos os dias", afirmou o rapper. Ele também reforçou o poder transformador da educação: "Se existe um lugar em que a gente vai conseguir olhar no olho do outro e recobrar a condição de humanidade, esse lugar se chama Brasil. Não existe ferramenta mais poderosa com esse intuito que a educação".

Universidade se modifica com a presença de todos

O vice-reitor da UFRGS, Pedro Costa, explicou que a homenagem a Emicida representa um passo a mais na busca por desconstruir o modelo de universidade elitista e excludente. Para ele, a instituição deve ser aberta e plural, modificando-se com a presença de todas as pessoas, em uma referência à música do próprio Emicida, que critica os espaços acadêmicos inacessíveis.

A UFRGS também destacou que a obra do artista já é objeto de estudo em dezenas de pesquisas acadêmicas, consolidando sua influência como voz importante para a compreensão da cultura contemporânea e das lutas sociais no Brasil. A cerimônia marcou não apenas o reconhecimento da trajetória individual de Emicida, mas também a valorização da cultura de origem periférica como produtora de conhecimento e agente de transformação social.