Cristovam Buarque: Educação é o mapa para COP31 após fracasso da COP30
Cristovam Buarque: Educação é mapa para COP31

O Fracasso da COP30 e a Necessidade de um Novo Caminho

O resultado da COP30, realizada em Belém, não surpreendeu o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque. Em artigo publicado na edição de 28 de novembro de 2025 da revista Veja, o autor destaca que a conferência do clima não conseguiu estabelecer um mapa do caminho para abolir o uso de combustíveis fósseis no mundo.

Buarque explica que essa dificuldade existe porque a COP reúne países independentes, cada um com interesses nacionais e imediatos. Com seus eleitores mais preocupados com o preço da gasolina do que com o nível do mar, fica complicado adotar uma estratégia conjunta que implique sacrifícios para cada pessoa e cada nação.

O Dilema entre Humanismo e Realidade Política

O artigo destaca o paradoxo vivido pelo presidente Lula, que defendeu a ideia do mapa do caminho, mas sempre comemorou o aumento da produção de petróleo. Na véspera da COP30, ele autorizou pesquisas para exploração de petróleo no litoral da Amazônia.

Como humanista, ele formula e defende o caminho para proibir o uso do petróleo; como político, é obrigado a promover e comemorar o aumento da produção e do uso, analisa Buarque.

Esse conflito exemplifica o divórcio entre o humanismo planetário e a democracia nacional que caracteriza as grandes transformações das últimas décadas. Enquanto cientistas e ativistas podem defender livremente suas posições, os governos dependem dos votos de eleitores que querem aumentar o consumo, não da humanidade que busca evitar catástrofes planetárias.

A Educação como Solução para a Crise Ambiental

Buarque apresenta uma solução de longo prazo para o impasse: a educação da atual geração de crianças em idade escolar. Segundo ele, a solução para a crise ambiental exige uma transição na mentalidade dos eleitores, que só será possível através da educação.

O problema não está apenas nos países produtores de petróleo, mas também nos eleitores consumidores, independentemente do país. A mentalidade da sociedade industrial, consumista e global não permite o compromisso efetivo com uma estratégia de curto prazo para a abolição de combustíveis fósseis.

A substituição dos combustíveis fósseis requer trocar a ânsia de progresso baseado na produção e no consumo por uma proposta de progresso equilibrado e permanente, defende o autor.

Buarque critica o fato de que o tema da educação não entrou na agenda central da COP30 nem em nenhuma das conferências anteriores. Ele propõe que a COP31 precisa de um mapa do caminho para seu próprio funcionamento, incluindo em sua pauta o tema da transição de mentalidade dos 2 bilhões de crianças e adolescentes em idade escolar.

O autor finaliza com uma reflexão poderosa: Mais do que o mapa da COP para abolir o petróleo, a humanidade precisa de um mapa para a COP: adotar a educação como elemento decisivo para enfrentar a crise ecológica. No entanto, ele observa com ironia que aqueles que lamentam a não adoção do mapa do caminho energético também não aceitaram colocar a educação no mapa do caminho da COP30.