Agricultura orgânica fortalece segurança alimentar no oeste paulista
Agricultura orgânica no oeste paulista gera renda

No oeste paulista, a agricultura familiar orgânica está se consolidando como uma alternativa sustentável para garantir segurança alimentar e gerar renda para comunidades locais. Em Presidente Prudente, a técnica em agropecuária e doutora em educação Ivonete Aparecida Alves, de 59 anos, lidera um movimento que valoriza os conhecimentos tradicionais sobre plantas comestíveis e medicinais.

Técnicas naturais substituem agrotóxicos

Ivonete desenvolve seu cultivo orgânico sem utilizar nenhum tipo de adubação química ou veneno comercial. Ela emprega caldas naturais feitas com cascas de ovos maceradas e uma preparação conhecida como "água de vidro", produzida com cal e cinzas. Outra técnica utilizada pela agricultora é o plantio de crotalária, uma leguminosa que atrai libélulas - insetos que combatem o mosquito transmissor da dengue.

O sistema de adubação verde inclui ainda composto feito com esterco de gado proveniente de vacas orgânicas criadas por sua cunhada. "Ela também tem esse cuidado, as vaquinhas são humanizadas, elas têm nome", conta Ivonete, que complementa com folhas e gramas recolhidas para enriquecer a compostagem.

Plantas não convencionais e tradições familiares

O trabalho desenvolvido por Ivonete junto com seu esposo e outra moradora inclui a identificação de matos comestíveis, plantas nativas e ervas medicinais. Eles comercializam sua produção na feira do Sesc Thermas, oferecendo uma variedade de plantas alimentícias não convencionais (PANCs) e ervas aromáticas.

Para a pesquisadora, a segurança alimentar vai além do simples acesso aos alimentos. "Nossas pessoas mais velhas, que sabiam fazer milagre com ingredientes naturais, produzidos em quintais, estão morrendo e poucas outras pessoas a substituem nesta tarefa", lamenta. Ela questiona o desaparecimento de preparos tradicionais como bolinhos de chuva, pamonhas, curau e farofas com ervas naturais.

Conhecimento compartilhado em grupo de estudos

Ivonete atua no Mocambo Nzinga, um grupo de estudo e trabalho voltado para a cultura afro-brasileira e africana localizado no Jardim Cambuci. O coletivo mantém parceria com o Coletivo Saruê da Unesp e realiza atividades no primeiro sábado de cada mês.

As reuniões são gratuitas e abertas a todos os interessados, mesmo aqueles sem experiência prévia. Os participantes compartilham conhecimentos sobre plantas, seu uso em chás e comidas, além de técnicas de cultivo. No sábado, 6 de dezembro, o tema será a planta crajiru (também conhecida como pariri), reconhecida por suas propriedades anti-inflamatórias.

Na região de Iepê, a agricultura orgânica sustenta aproximadamente 30 famílias. Arlindo da Silva, de 56 anos, trabalha há 18 anos no cultivo sem agrotóxicos, produzindo mandioca, abóbora, milho, feijão, maxixe e abacaxi de acordo com a sazonalidade.

Segundo dados da Embrapa com base no Censo Agropecuário de 2017, a agricultura familiar ocupa 80,9 milhões de hectares no Brasil, representando 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários do país.