De delegacia a templo da música: os 70 anos do Conservatório Haidée França Americano
O que antes era um espaço de punição e tristeza hoje ressoa com acordes musicais e vozes entoando melodias. O Conservatório Estadual de Música Haidée França Americano, localizado na Rua Batista de Oliveira, no Centro de Juiz de Fora, celebra neste mês de novembro sete décadas de existência com uma trajetória marcante na formação artística da região.
Transformação radical
O prédio que hoje abriga o conservatório possui uma história peculiar: funcionou como delegacia antes de se tornar um centro de arte e cultura. Heloísa Negri, engenheira e atual professora da instituição, testemunhou pessoalmente essa metamorfose. Filha do delegado que trabalhou na antiga cadeia, ela descreve a mudança como "radical".
"A transformação foi radical porque isso aqui era triste. Um lugar onde não tinha nada de bom para as pessoas fazerem. Era um lugar de tristeza e, de repente, virou uma catedral de música", emociona-se Heloísa.
Sucesso que atrai milhares
Atualmente, o conservatório possui números impressionantes: mais de 3.500 alunos matriculados e uma fila de espera que chega a aproximadamente 4 mil pessoas, conforme dados da direção da instituição. Todas as aulas são oferecidas gratuitamente para crianças, jovens, adultos e idosos.
Em seus 70 anos de história, a instituição passou por seis endereços diferentes até se estabelecer definitivamente na Rua Batista de Oliveira. Nesse período, formou milhares de artistas e consolidou-se como uma das 12 escolas públicas de música ainda em funcionamento em Minas Gerais.
Formação musical para todos
O conservatório oferece dois tipos principais de formação: Educação Musical, destinada a crianças e jovens no contraturno escolar, e Formação Profissional em música.
No curso de Educação Musical, os estudantes podem aprender instrumentos como:
- Bateria, canto e cavaquinho
- Contrabaixo acústico e elétrico
- Clarinete, flauta doce e transversal
- Guitarra, órgão e piano
- Saxofone, teclado e trombone
- Trompete, viola, violão, violino e violoncelo
Já na Formação Profissional, as opções incluem canto, teclado, flauta doce, flauta transversal, órgão, piano, saxofone, violão, violino e violoncelo. Os interessados em ingressar na instituição passam por processo seletivo e de classificação, com informações disponíveis no site oficial do Conservatório.
Impacto que vai além da música
Para Evelise Alvarenga, diretora da instituição, a formação artística oferecida no espaço propicia outros tipos de desenvolvimento além do musical. "O Conservatório é o DNA de muitos profissionais, não só músicos", destaca ela.
Entre os ex-alunos de destaque estão as jornalistas Ana Paula Araújo e Cláudia Gabriel, além de profissionais da medicina e várias outras áreas. A instituição orgulha-se de ter contribuído para a formação de cidadãos que brilham em diferentes setores da sociedade.
Para Heloísa Negri, que viu a transformação do local de perto, o conservatório representa mais do que um espaço educativo: "O conservatório para mim é a minha vida. Eu comecei a vivenciar uma coisa que ainda não existia na minha vida, que era a música. E dali conheci pessoas, instrumentos e fui começando a sentir que aquilo era realmente um caso de amor".
Setenta anos depois de sua fundação, o Conservatório Haidée França Americano mantém viva sua missão de transformar vidas através da música, provando que mesmo os espaços mais improváveis podem se tornar celeiros de arte e esperança.