Uma manifestação histórica tomou conta dos trilhos no Espírito Santo. Comunidades indígenas decidiram fechar uma importante ferrovia operada pela Vale em protesto contra a exclusão dos acordos de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, que completa quase uma década.
Protesto que paralisa: a ferrovia como palco de reivindicação
O bloqueio começou nas primeiras horas da manhã e já causa impactos significativos no escoamento de minério de ferro na região. Os manifestantes, representantes de povos originários afetados diretamente pelo desastre ambiental, ocupam os trilhos com faixas e cartazes que exigem justiça e reparação integral.
"Passaram-se quase dez anos e continuamos sendo ignorados", declarou uma liderança indígena durante o protesto. "Nossas terras, nossos rios, nosso modo de vida foi destruído, mas quando chega a hora da reparação, somos tratados como invisíveis".
Exclusão que dói: indígenas fora dos acordos
O cerne da controvérsia está na exclusão sistemática das comunidades indígenas dos processos de reparação estabelecidos após o maior desastre ambiental da história do Brasil. Enquanto outros grupos afetados foram incluídos em acordos bilionários, os povos originários seguem lutando por reconhecimento.
- Comunidades indígenas não foram incluídas no acordo de R$ 1,2 bilhão assinado em 2024
- Falta de consulta prévia sobre projetos de reparação ambiental
- Danos culturais e espirituais não reconhecidos
- Recursos hídricos tradicionais permanentemente afetados
Impacto imediato: a paralisação que ecoa
O bloqueio já provoca reflexos diretos na logística de exportação do minério de ferro, commodity vital para a economia capixaba e nacional. A ferrovia afetada é um dos principais corredores de escoamento da produção mineral da região.
Autoridades locais já foram acionadas e tentam mediar o conflito, mas os manifestantes são claros: só deixarão os trilhos quando houver um compromisso formal de inclusão nos processos de reparação.
Uma década de espera: o legado de Mariana
O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, lançou 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre o Rio Doce, causando destruição que atingiu o oceano Atlântico. Dez anos depois, as feridas continuam abertas para muitas comunidades, especialmente as indígenas.
Este protesto representa mais um capítulo na longa luta por justiça ambiental e social na região afetada pelo desastre. Enquanto as empresas envolvidas anunciam lucros recordes, aqueles que perderam tudo continuam na espera por reparação digna.
O bloqueio continua sem previsão de término, e os olhos do país se voltam mais uma vez para o Espírito Santo, onde a resistência indígena escreve um novo capítulo na história da luta por direitos no Brasil.