
Eis que do nada — poof! — some uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea brasileira. Jefferson Tenório, aquele mesmo que arrebatou o Jabuti com "O Avesso da Pele", acordou na terça-feira (17) com uma surpresa nada agradável: sua conta do Instagram havia simplesmente evaporado.
Sumiço completo. Sem aviso, sem explicação, sem chance de recurso. A plataforma, que todo mundo sabe ser caprichosa nesses aspectos, simplesmente engoliu o perfil do escritor como se fosse mais um na multidão.
O silêncio que fala mais alto
O que me deixa realmente intrigado — e aqui falo como alguém que acompanha o cenário literário há décadas — é o timing mais do que suspeito. Jefferson não é qualquer autor. Sua obra discute racismo, violência e identidade num país que ainda reluta em olhar para seu próprio reflexo.
E agora, justo ele? Desaparecer assim, sem deixar rastros? A situação cheira a censura digital da pior espécie.
Ah, as redes sociais… Elas prometem democratização, mas entregam arbitrariedade. O caso do Tenório não é isolado — é sintoma de um sistema que pune vozes dissonantes enquanto protege discursos de ódio.
Repercussão imediata
O buraco foi mais embaixo. A comunidade literária reagiu com uma mistura de indignação e incredulidade. Escritores, editores, leitores — todos se perguntando: como uma plataforma pode simplesmente apagar um intelectual de sua relevância?
Nas palavras da editora Companhia das Letras, que publica suas obras: "É assustador testemunhar o apagamento de uma voz tão necessária". E é mesmo.
O Meta, dona do Instagram, segue seu silêncio habitual — aquele que já conhecemos tão bem. Nada de explicações, nada de transparência. Só o vácuo digital consumindo mais uma vítima.
Padrão preocupante
Pensando bem, isso já virou moda. Artistas negros, intelectais periféricos, vozes marginalizadas — todas parecem estar na mira desse algoritmo misterioso que decide quem pode falar e quem deve calar.
É como se a tecnologia reproduzisse as mesmas estruturas de exclusão que existem lá fora, sabe? Só que com uma capa de neutralidade técnica que ninguém mais acredita.
O pior de tudo? Jefferson estava justamente promovendo seu novo livro, "O Álbum de Rifka". O timing não poderia ser pior — ou mais conveniente para quem não quer ver certas histórias sendo contadas.
O que resta
Enquanto o Instagram se fecha em copas, o autor segue escrevendo. Porque é isso que escritores fazem: transformam a dor em palavra, a exclusão em narrativa.
Seu legado, felizmente, não cabe numa plataforma digital. "O Avesso da Pele" continua nas livrarias, nas bibliotecas, nas mentes dos leitores. Nenhum algoritmo pode apagar isso.
Mas a pergunta que fica é assustadora: quantos outros Jeffersons estão sendo silenciados enquanto festejamos nossa suposta liberdade digital?