
Parece contraditório, mas é exatamente isso que está acontecendo: enquanto o Copom aumenta a Selic para conter a inflação, alguns setores da Bolsa brasileira simplesmente decolam. E não são os mais óbvios, não.
Quem diria que empresas de energia elétrica, saneamento básico e saúde — aquelas que a gente nem pensa no dia a dia — se tornariam os queridinhos dos investidores nesse momento? Pois é, a vida prega dessas peças.
O que está por trás desse movimento?
Quando os juros sobem, o dinheiro fica mais caro. Simples assim. E isso, em tese, deveria ser ruim para todas as ações, certo? Errado. Alguns setores têm uma característica peculiar: as pessoas precisam deles não importa o que aconteça na economia.
Você deixa de pagar a conta de luz porque os juros subiram? Corta o plano de saúde? Para de usar água? Exatamente. São serviços essenciais — e essa essencialidade se traduz em receitas estáveis mesmo quando o cenário aperta.
Os números não mentem
Enquanto o Ibovespa — nosso principal índice — patinava, esses setores defensivos registraram altas que chegaram a impressionantes 2,5% em um único dia. Não é pouco, considerando o momento.
As distribuidoras de energia puxaram essa corrida, com saltos de até 1,93%. Seguiram-se as empresas de saneamento (1,73%) e saúde (1,54%). Um desempenho que, convenhamos, deixou muitos analistas surpresos — embora não totalmente.
E os papéis sensíveis aos juros?
Aqui vem a parte triste da história. Enquanto os defensivos brilham, setores como varejo e construção civil — aqueles que dependem diretamente do crédito — amargam quedas expressivas. Lojas Renner, Magazine Luiza, Via... Todas no vermelho.
É como se tivéssemos dois Brasis dentro da Bolsa: um que segue a vida normalmente, outro que sente na pele cada ponto percentual de aumento na Selic.
O que esperar pela frente?
Os especialistas — esses seres que tentam prever o imprevisível — acreditam que essa tendência deve continuar enquanto o Copom mantiver o pé no freio. A reunião de dezembro será crucial, claro.
Mas cá entre nós: ninguém tem bola de cristal. O que sabemos é que, em tempos de incerteza, o instinto de preservação fala mais alto. E no mercado financeiro, isso se traduz em correr para onde o risco parece menor.
Curioso, não? Enquanto a economia esquenta, alguns setores esfriam. E quando os juros apertam, esses mesmos setores esquentam. Parece aquela dança das cadeiras — só que com muito mais zeros à direita.
No fim das contas, o mercado nos ensina uma lição valiosa: às vezes, o mais seguro é apostar no que é chato, previsível e... essencial. Quem diria?