
Numa jogada que mistura diplomacia corporativa e um toque de realismo econômico, a Embraer decidiu não ficar calada diante das acusações que pipocam do outro lado do hemisfério. A empresa — aquela mesma que coloca o Brasil no mapa da aviação mundial — soltou uma carta aberta respondendo às investigações americanas sobre supostas práticas comerciais questionáveis.
E olha só o paradoxo: a fabricante de aviões argumenta, com dados na mesa, que as tarifas que os Estados Unidos querem empurrar goela abaixo podem acabar queimando justamente os interesses do Tio Sam. "Medidas protecionistas nesse setor são como remédio vencido — parecem solução, mas intoxicam todo o sistema", dispara um trecho do documento, que circulou entre investidores antes de virar notícia.
O X da Questão
O cerne da treta? Uma investigação iniciada em maio pelo governo americano, que suspeita de subsídios ilegais à Embraer. Só que a empresa rebate com uma lógica que faria Adam Smith dar pulinhos: "Nossa competitividade vem de décadas de pesquisa, não de ajuda estatal", dizem eles, lembrando que 70% dos fornecedores da Embraer são... norte-americanos!
Números que fazem pensar:
- 15 mil empregos diretos nos EUA dependem da cadeia da Embraer
- US$ 4 bilhões em compras anuais de peças de empresas americanas
- 47 estados americanos abrigam fornecedores da brasileira
Efeito Dominó
Analistas ouvidos — mas que preferiram não estampar o nome — comentam que o caso tem cheiro de guerra comercial disfarçada. "Quando um avião da Embraer deixa de ser vendido, uma fábrica no Kansas fecha as portas mais cedo", exemplifica um deles, enquanto outro ressalta: "Isso é lobby da Boeing falando mais alto que a economia real".
O clima, convenhamos, tá mais tenso que voo em turbulência. Enquanto Washington pressiona, São José dos Campos (onde fica a matriz) contra-ataca com fatos. Resta saber se a Casa Branca vai ouvir — ou se vai preferir o caminho mais curto (e burro, segundo especialistas) do protecionismo.