O ano de 2025 terminou com um alívio para inquilinos e um cenário atípico para um dos principais índices de preços do país. O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), tradicionalmente usado como referência para o reajuste de contratos de aluguel, encerrou o período com uma queda acumulada de 1,05%. Em dezembro, a variação foi praticamente nula, de 0,01%, após alta de 0,27% em novembro.
Uma virada de ciclo marcante
O resultado representa uma mudança significativa em relação ao cenário de 2024. Na comparação com dezembro do ano passado, quando o índice subiu 0,94%, e com o acumulado de 6,54% em 12 meses naquela época, a trajetória de 2025 mostra uma clara desaceleração. Segundo a FGV IBRE, responsável pelo cálculo, o ambiente de desaceleração da atividade global e a elevada incerteza limitaram os repasses de custos ao longo da cadeia, pressionando principalmente os preços na origem.
"A melhora das safras agrícolas contribuiu para aliviar preços de matérias-primas, reforçando o movimento de deflação no índice", afirmou Matheus Dias, economista do instituto. Para ele, o contraste entre a deflação no atacado e a alta moderada no varejo sugere uma menor pressão de custos para 2026, embora riscos persistam em itens sensíveis à atividade econômica.
O que puxou a queda: desinflação no campo e na indústria
O resultado anual negativo foi puxado principalmente pelo desempenho do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem o maior peso na composição do IGP-M. O IPA registrou uma queda de 0,12% em dezembro, revertendo a alta do mês anterior, e acumulou uma retração expressiva de 3,35% em todo o ano de 2025.
Dentro deste componente, as matérias-primas brutas tiveram um recuo de 0,30% no último mês e uma queda acentuada de 8,09% em 12 meses. Os produtos agropecuários foram destaque negativo, com queda de 0,87% em dezembro e 6,30% no ano. Itens como leite in natura, ovos, laranja e óleo de soja em bruto influenciaram negativamente. Do lado positivo, pressionando para alta, estiveram minério de ferro, carne bovina, farelo de soja e milho.
Varejo e construção civil: cenários distintos
Enquanto os preços na produção caíam, o cenário no varejo e na construção seguiu outro caminho. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,24% em dezembro, mantendo estabilidade em relação a novembro (0,25%). No ano, o IPC acumulou alta de 4,08%.
Cinco das oito classes de despesa pesquisadas desaceleraram ou caíram no mês, como Alimentação (-0,07%), Vestuário (-0,60%) e Saúde e Cuidados Pessoais (-0,09%). Por outro lado, Habitação acelerou para 0,42%, puxada principalmente por tarifas de eletricidade residencial (1,97%). Educação, Leitura e Recreação teve forte alta de 1,53%, e Transportes subiu 0,28%, impulsionado por um salto de 12,49% nas passagens aéreas. Tomate e perfumes foram destaques de queda no varejo.
Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 0,21% em dezembro, abaixo dos 0,28% de novembro, fechando 2025 com alta acumulada de 6,10%. Materiais e equipamentos desaceleraram, enquanto serviços e mão de obra ganharam tração no fim do ano.
O que significa para o bolso do brasileiro
A queda anual do IGP-M, o famoso "índice dos aluguéis", traz um respiro imediato para os contratos que usam essa referência para reajuste. Inquilinos poderão ter correções menores ou até mesmo reduções nominais nos valores, dependendo da data de aniversário do contrato. O cenário de deflação no produtor também aponta para um ambiente de menor pressão inflacionária a montante no próximo ano, embora os preços ao consumidor ainda reflitam pressões específicas de setores como serviços e energia.
O comportamento díspar entre os componentes do índice ilustra os diferentes ventos que sopram sobre a economia: enquanto o campo e a indústria sentem o alívio de custos, setores intensivos em mão de obra e serviços continuam com dinâmica de preços mais firme, delineando os desafios para a política econômica em 2026.