
O placar eletrônico do Supremo Tribunal Federal mal havia atualizado quando os telefones começaram a explodir nos escritórios de alto padrão da Faria Lima. Não era um dia comum. Longe disso.
Flávio Dino, o ministro que nunca parece se intimidar pela gravata borboleta dos banqueiros, acabara de soltar uma bombástica decisão que ecoaria como um tiro de canhão no sistema financeiro. A liminar, seca e direta, determinava a imediata suspensão de qualquer reajuste em tarifas bancárias sem autorização prévia do Banco Central. Sim, você leu certo.
O que se seguiu foi algo entre um pandemônio corporativo e uma operação de guerra. Isaac Sidney, presidente da Febraban – a poderosa associação que rege os destinos dos bancos no país –, não perdeu um segundo sequer. Relatos dão conta de que ele praticamente pulou em seu carro e rumou em direção à Praça dos Três Poderes, o rosto uma máscara de preocupação contida.
Mas ele não estava sozinho. Uma comitiva de peso, composta por alguns dos nomes mais influentes (e normalmente discretos) do setor, formou uma verdadeira caravana do desespero. O objetivo? Uma missão quase impossível: encontrar, convencer e reverter. Eles bateram nas portas de outros gabinetes do STF, buscando um ministro, qualquer um, que pudesse oferecer um contraponto, um freio de arrumação, qualquer coisa que contivesse o terremoto regulatório iniciado por Dino.
A decisão do ministro não veio do nada, é claro. Ela atende a um pedido urgente do partido Solidariedade, que entrou com uma arguição de descumprimento de preceito fundamental. O cerne da questão é visceral: os bancos estariam simplesmente passando a boiada, implementando aumentos abusivos sem o aval do BC, deixando o consumidor – aquele que sempre paga a conta – refém de sua ganância.
O clima nos corredores do Supremo era de tensão palpável. De um lado, a força bruta do mercado financeiro, acostumada a ditar as regras. Do outro, a canetada firme de um ministro que parece ter decidido que a era da impunidade tariffária chegou ao fim. Enquanto os executivos faziam sua peregrinação por poder, assessores sussurravam, corriam com papéis e a pergunta que não queria calar pairou no ar: alguém terá a coragem de enfrentar Dino nesse tabuleiro?
O que está em jogo vai muito além de alguns centavos numa planilha. É a própria soberania do Banco Central como regulador, o limite do poder de fogo das instituições financeiras e, francamente, o bolso de cada um de nós. A jogada é arriscadíssima e o desfecho… bem, ninguém sabe. A corte está dividida, o assunto é espinhoso e o Brasil todo observa, segurando a carteira.