IPCA de outubro tem menor taxa para o mês em 27 anos, cai a 0,09%
Inflação oficial desacelera para 0,09% em outubro

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal termômetro da inflação oficial no Brasil, desacelerou significativamente em outubro, atingindo a menor taxa para o mês em 27 anos. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11) mostram que o índice ficou em 0,09% no mês passado, após marcar 0,48% em setembro.

Queda histórica da inflação

O resultado de outubro surpreendeu positivamente o mercado financeiro, que projetava uma mediana de 0,15% para o período. A taxa de 0,09% representa a menor inflação para meses de outubro desde 1998, quando o IPCA havia ficado em 0,02%. As estimativas dos analistas variavam entre 0,08% e 0,23%.

No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA também desacelerou, passando de 5,17% até setembro para 4,68% até outubro. Esta é a menor taxa desde janeiro deste ano, quando ficou em 4,56%. Apesar da melhora, o índice ainda permanece acima do teto da meta de inflação, que é de 4,5%.

Conta de luz puxa inflação para baixo

O alívio na conta de energia elétrica foi o principal fator responsável pela desaceleração da inflação em outubro. Após uma forte alta de 10,31% em setembro, as faturas de luz recuaram 2,39% no mês passado, puxando o IPCA para baixo com impacto de -0,10 ponto percentual.

De acordo com o IBGE, se a energia fosse retirada dos cálculos, o índice teria subido 0,20% em outubro. A redução veio com a manutenção da bandeira vermelha no patamar 1, que significa uma sobretaxa menor que a aplicada em setembro, quando vigorava o patamar 2.

Com o impacto da conta de luz, o grupo habitação registrou queda de 0,30% em outubro. Outros segmentos que apresentaram baixa foram artigos de residência (-0,34%) e comunicação (-0,16%).

Alimentação interrompe sequência de quedas

O grupo alimentação e bebidas interrompeu uma sequência de quatro meses consecutivos em queda, registrando leve variação positiva de 0,01% em outubro. O resultado reflete situações opostas: enquanto a alimentação fora do domicílio acelerou de 0,11% para 0,46%, a comida consumida em casa seguiu em queda pelo quinto mês seguido, embora com baixa menos intensa (-0,16%).

Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IPCA, destacou que a safra "mais abundante" de alimentos como o arroz reduziu a pressão sobre os preços nos últimos meses. Em outubro, o IBGE registrou quedas no arroz (-2,49%) e no leite longa vida (-1,88%), enquanto batata-inglesa (8,56%) e óleo de soja (4,64%) apresentaram altas significativas.

Perspectivas para a inflação e juros

Diante das recentes surpresas para baixo, analistas começam a revisar suas projeções. Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirmou que "devemos revisar nossa projeção para o IPCA de 2025, que hoje é de 5%, e vemos a possibilidade de terminarmos o ano com a inflação dentro do intervalo de tolerância da meta".

Leonardo Costa, do Asa, que atua no setor financeiro, compartilha do otimismo: "A gente está caminhando para ter uma inflação provavelmente dentro da meta ao final de 2025. O IPCA de dezembro deve escorregar para baixo de 4,5%. É a principal expectativa".

O Comitê de Política Monetária (Copom) indicou maior convicção de que a manutenção da taxa básica de juros (Selic) no atual patamar de 15% ao ano por tempo prolongado será suficiente para levar a inflação à meta. Rodrigo Marques, da Nest Asset Management, avaliou que "o dado consolida a percepção de um ambiente mais favorável para o início de cortes na Selic".

As projeções do mercado ainda indicam Selic inalterada até o final de 2025, com os cortes começando apenas em 2026. O Copom tem mais uma reunião no ano, agendada para 9 e 10 de dezembro.

Desempenho regional

Entre as 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas, Vitória liderou a inflação acumulada nos 12 meses até outubro, com 5,39%. São Paulo e Aracaju vieram na sequência, com altas de 5,17%. Seis metrópoles registraram IPCA abaixo de 4,5%: Campo Grande (3,83%), Rio de Janeiro (3,89%), Rio Branco (4,01%), Belo Horizonte (4,36%), Salvador (4,39%) e Brasília (4,44%).