Com o ano de 2025 chegando ao fim, é momento de fazer um balanço e comparar as projeções feitas pelo mercado financeiro com a realidade dos fatos. O Relatório Focus, pesquisa semanal do Banco Central que coleta expectativas de economistas, serviu como uma bússola importante, mas que neste ano apontou direções equivocadas em várias frentes da economia brasileira.
Os principais erros nas projeções para 2025
A inflação oficial, medida pelo IPCA, foi um dos pontos onde o mercado mais superestimou os números. No final de 2024, a mediana das respostas no Focus apontava para uma inflação de 4,96% em 2025. No entanto, os dados mais recentes, também do Focus, mostram uma expectativa revisada para 4,32%, valor que ficaria dentro do teto da meta de inflação, estabelecido em 4,50%.
Esse pessimismo em relação aos preços, influenciado em parte pela cotação do dólar, que encerrou 2024 acima de R$ 6,00, levou a outra projeção errada: a da taxa básica de juros, a Selic. O mercado previu um pico de 14,75%, mas o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa a 15% em junho, adotando uma postura mais rigorosa do que o esperado.
O impacto das medidas de Trump e o cenário fiscal
As projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também ficaram aquém da realidade. Além de um certo pessimismo de mercado em relação às políticas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fatores externos pesaram. A posse do presidente norte-americano Donald Trump em 20 de janeiro de 2025 e suas promessas de tarifas comerciais e restrições migratórias criaram incertezas globais.
O chamado "tarifaço" enfrentou recuos, especialmente com a China, e, combinado com uma estratégia de desvalorização do dólar pelos EUA, ajudou a conter a inflação de bens transacionáveis internacionalmente. Esse movimento também impactou as contas externas brasileiras. A previsão para o saldo da balança comercial, que era de um superávit de US$ 74,89 bilhões, foi revisada para cerca de US$ 63 bilhões.
No front fiscal, o pessimismo do mercado foi igualmente superado. A previsão de um déficit primário de 0,60% do PIB no final de 2024 foi revista. Com um PIB crescendo mais do que o esperado, a projeção atual é de um déficit de -0,50% do PIB para o fechamento de 2025, nível mantido nas expectativas para 2026.
O papel dos Investimentos Diretos e o fenômeno das 'bets'
Um ponto positivo veio dos Investimentos Diretos no País (IDP). Com os juros dos EUA em baixa para estimular a demanda doméstica e a Selic mantida em patamar alto, houve um aumento na entrada de capital estrangeiro buscando arbitragem. A projeção para o IDP de 2025, que era de US$ 70 bilhões, foi elevada para US$ 79,70 bilhões, com a mediana dos últimos cinco dias úteis indicando até US$ 80 bilhões, valor suficiente para cobrir o déficit em conta corrente.
O artigo também chama a atenção para o crescimento das casas de apostas online, as "bets". Patrocinadoras de grandes times de futebol e programas esportivos, essas empresas, muitas sediadas em paraísos fiscais, teriam conquistado um "silêncio" por parte de grandes redes de mídia, que se tornaram neutras ou apoiadoras em relação à resistência do setor à tributação. A reportagem critica a cobertura midiática que, em sua visão, trata as plataformas quase como instituições de caridade, ignorando os riscos de endividamento que representam para parte da classe média.
Em suma, o ano de 2025 mostrou que, mesmo com ferramentas consolidadas como o Relatório Focus, a economia ainda reserva surpresas. As ações da política externa norte-americana, a resposta da política monetária brasileira e fenômenos novos, como a explosão das apostas online, desafiaram as previsões e moldaram um cenário econômico diferente do projetado.