O setor industrial brasileiro enfrenta uma crise profunda, com queda de 12% na produção desde 2013, mesmo diante de um cenário de consumo aquecido pelas políticas de estímulo do governo federal. Os dados revelam um paradoxo que preocupa economistas e empresários.
Os números que preocupam
Entre 2021 e o segundo trimestre de 2025, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma taxa pouco superior a 3% ao ano. No mesmo período, a produção industrial apresentou desempenho muito inferior, com avanço de apenas 0,9% anuais, mesmo considerando o aumento expressivo na extração de petróleo.
Quando comparado ao auge de 2013, o setor industrial registra queda acumulada de 12%. O mais surpreendente é que essa retração ocorreu em um contexto de demanda robusta: o consumo das famílias, impulsionado pelas transferências governamentais, cresceu quase 4% ao ano no mesmo intervalo.
As causas da estagnação
Segundo análise do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, dois fenômenos principais explicam esse cenário preocupante. O primeiro é o desempenho lamentável da produtividade no setor industrial.
Apesar da queda na produção desde 2013, o emprego no setor aumentou, indicando redução na eficiência. Essa tendência negativa na produtividade se manteve no período recente, de 2021 em diante.
O segundo fator é o crescimento dos salários acima do ganho de produtividade. Com ajuste pela inflação, a renda média no setor industrial subiu 8%, puxada pela valorização geral dos salários na economia.
Consequências para a competitividade
O aumento dos custos trabalhistas sem ganhos correspondentes em produtividade criou um cenário desfavorável para a indústria nacional. Enquanto setores como serviços conseguem repassar parte desses custos aos preços finais, a indústria enfrenta limitações severas.
Os dados comprovam essa diferença: a inflação de produtos industriais no atacado ficou abaixo de 1% ao ano desde 2021, enquanto a inflação de serviços superou 6% anuais no mesmo período.
Essa incapacidade de competir em preços levou a um aumento significativo das importações. O déficit na balança de manufaturados, que era de 53 bilhões de dólares em 2021, ampliou-se para 70 bilhões de dólares nos 12 meses encerrados em setembro de 2025.
Schwartsman alerta que a economia opera acima de seu potencial, como evidenciado pelo comportamento da inflação e das contas externas. A política de estímulo ao consumo, principalmente através de transferências governamentais e incentivos ao crédito, teria consequências negativas para um país que já enfrenta diversos obstáculos à eficiência econômica.