Correios fracionam empréstimo de R$ 20 bi para reduzir juros
Correios fracionam empréstimo de R$ 20 bilhões

Correios buscam novo modelo para empréstimo bilionário

Os Correios decidiram adotar uma estratégia diferente para contratar o empréstimo de R$ 20 bilhões necessário para socorrer a empresa. Em vez de uma única operação, o valor será dividido em várias partes, com o objetivo de atrair mais instituições financeiras e reduzir os custos de financiamento.

Proposta inicial com juros elevados

Na primeira rodada de negociações, um grupo de quatro bancos - Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil - aceitou conceder o crédito no valor solicitado. No entanto, a proposta incluía uma taxa de juros de 136% do CDI, considerada excessiva para uma operação com garantia soberana.

O problema é que o comitê de garantias do Tesouro Nacional estabeleceu um teto máximo de 120% do CDI para operações desse tipo com prazo de dez anos. A diferença na taxa de juros representaria um custo adicional de centenas de milhões de reais para os Correios ao longo dos anos.

Além disso, os bancos pediram uma comissão de estruturação de 5%, equivalente a R$ 1 bilhão, enquanto em empréstimos similares para estados e municípios esse percentual costuma ser de apenas 1%.

Situação financeira crítica

A conclusão do empréstimo é fundamental para dar fôlego financeiro aos Correios, que enfrentam dificuldades crescentes. A empresa acumula prejuízos desde 2022 e, somente em 2025, o rombo deve alcançar R$ 10 bilhões - apenas no primeiro semestre, o saldo já foi negativo em R$ 4,4 bilhões.

Projeções apresentadas ao governo indicam que, sem novos recursos, a situação pode piorar drasticamente. O prejuízo pode chegar a R$ 20 bilhões em 2026 e, em um cenário extremo, alcançar R$ 70 bilhões em cinco anos.

Nesse pior cenário, a empresa estaria em condição de falência e precisaria demitir funcionários, arcando com os custos trabalhistas dessas demissões.

Nova estratégia de negociação

Diante do interesse demonstrado por outros bancos após o anúncio da operação com garantia da União, a direção dos Correios decidiu fazer uma nova rodada de negociações mais ampla. Em vez de solicitar condições específicas, a empresa vai perguntar às instituições financeiras quanto elas aceitam emprestar ao custo de até 120% do CDI.

Se o valor ofertado não chegar aos R$ 20 bilhões, a empresa pode fazer uma primeira etapa de financiamentos com menor volume e voltar ao mercado posteriormente para obter recursos adicionais.

A expectativa é que, mesmo com a demora, seja possível fechar a contratação até o final de 2025. Enquanto isso, o pagamento a fornecedores seguirá represado, mas não há risco de atraso no pagamento de salários.

Resistência da Caixa e plano de reestruturação

A Caixa Econômica Federal, que inicialmente participava das conversas, não enviou proposta e manifestou resistências à operação. Nos bastidores, a instituição apontou dificuldades técnicas para participar.

O plano de reestruturação da empresa é considerado essencial para convencer os bancos sobre a capacidade de recuperação dos Correios e, consequentemente, a viabilidade do pagamento das prestações.

A crise financeira é vista como resultado de problemas estruturais de gestão, com aumentos sequenciais de custos e estratégia de negócios deficiente. Os Correios acumulam 12 trimestres consecutivos de prejuízo, após um período positivo entre 2017 e 2021, que teve auge durante a pandemia devido ao crescimento do comércio eletrônico.