
O clima no campo está mais tenso do que enxada em mão de novato. Os produtores de laranja — aqueles que literalmente colocam o suco na nossa mesa — estão com os pés atrás pra fechar novos contratos. E o motivo? Aquele velho conhecido que sempre aparece pra estragar a festa: a incerteza.
Não é exagero dizer que o tal do "tarifaço" tá fazendo um estrago danado. Como se não bastasse a seca que castigou os pomares no começo do ano, agora os exportadores tão segurando a caneta com unhas e dentes. "É como jogar poker sem saber as regras", desabafa um produtor de São Paulo que prefere não se identificar — afinal, nesse jogo, falar demais pode custar caro.
O Xis da questão
Pra entender a encrenca, tem que voltar dois passos:
- Os contratos de exportação são feitos com meses de antecedência
- Ninguém sabe ao certo quanto vai custar mandar a fruta pra fora
- Resultado? Um festival de "vamos esperar pra ver"
E não é pouca coisa não. Só pra ter ideia, o Brasil manda pra fora quase um caminhão de suco de laranja a cada minuto — ou melhor, 1,2 milhão de toneladas por ano. Quando o setor espirra, metade do mundo pega resfriado.
Efeito dominó
O pessoal das fábricas já tá sentindo o baque. Com menos contratos fechados, a produção fica no modo "espera aí". Algumas unidades até reduziram os turnos — coisa que não se via desde a crise de 2008. "É um desperdício danado", comenta um gerente industrial que pediu pra não ser nomeado. "Temos capacidade, temos fruta, mas falta segurança pra botar tudo pra funcionar."
E olha que a coisa não para no portão da fábrica. Os pequenos produtores, aqueles que sustentam cidades inteiras no interior de São Paulo e Minas, estão com o pé no freio. "Sem contrato assinado, não tem como investir", explica Maria do Carmo, que há 30 anos cuida do pomar da família. "Até adianto eu pular?"
O outro lado da moeda
Claro que tem quem ache que o alarde é exagerado. Alguns traders argumentam que é só uma fase de ajuste — como aquela ressaca depois do Carnaval. "O mercado sempre encontra um jeito", filosofa um executivo de uma grande exportadora, enquanto toma seu café da manhã com... adivinha? Suco de laranja, é claro.
Mas mesmo os mais otimistas concordam: sem uma definição clara sobre as tarifas, o setor vai continuar patinando. E enquanto isso, os compradores internacionais — espertos como sempre — aproveitam pra pechinchar, sabendo que os brasileiros estão com as costas contra a parede.
No final das contas, o que era pra ser só mais um detalhe burocrático virou uma pedra no sapato de todo mundo. E o pior? Ninguém sabe direito quando vai poder tirar o sapato — ou se vai ter que aprender a andar mancando.