Correios em crise: R$ 6,1 bi de prejuízo e empréstimo bilionário para sobreviver
Correios têm prejuízo de R$ 6,1 bi e buscam R$ 12 bi em empréstimo

A empresa pública Correios se encontra em uma situação crítica, enfrentando uma combinação de problemas financeiros, um modelo de negócios considerado ultrapassado e forte pressão política por resultados. Este cenário levou o governo federal a garantir um empréstimo de bilhões de reais como uma medida de emergência para assegurar a continuidade dos serviços postais no país.

Raízes Estruturais da Crise

O pano de fundo da crise é estrutural. A principal fonte histórica de receita da estatal, que é o envio de cartas, diminuiu de forma acelerada com a digitalização das comunicações e dos serviços. Paralelamente, o crescimento explosivo do comércio eletrônico expôs fragilidades operacionais da empresa em um mercado altamente competitivo, dominado por operadores privados que são mais ágeis, possuem tecnologia avançada e têm custos mais flexíveis.

Atualmente, os Correios operam com uma despesa anual na casa dos R$ 23 bilhões. Desse montante, aproximadamente dois terços são destinados a gastos com pessoal. A situação se agravou a ponto de a empresa acumular um prejuízo de R$ 6,1 bilhões apenas nos primeiros nove meses deste ano.

Plano de Reestruturação e Seus Desafios

Em resposta à crise, a estatal anunciou nesta segunda-feira um amplo plano de reestruturação. As medidas incluem um novo programa de demissão voluntária (PDV), o fechamento de agências, a venda de imóveis, uma reformulação do plano de saúde dos funcionários e mudanças na estrutura de cargos e salários.

No entanto, o efeito dessas ações será gradual e, segundo a própria empresa, só se tornará pleno no final desta década. Enquanto isso, a necessidade de capital é imediata, o que explica a busca por um empréstimo de R$ 12 bilhões, com contrato já assinado junto a cinco bancos.

Fatores que Agravaram a Situação

Vários elementos se combinaram para levar os Correios à situação atual:

  • Concorrência: O fim do monopólio no transporte de encomendas, em 2009, fez a empresa perder mercado para companhias privadas de logística. Ela manteve o privilégio apenas para cartas, cartões postais e malas diretas, justamente os serviços cuja demanda despencou na era digital.
  • "Taxa das blusinhas": A cobrança de impostos sobre encomendas internacionais de valor baixo (até US$ 50), iniciada em agosto de 2024, afetou negativamente a receita dos Correios, que perdeu a exclusividade na importação dessas mercadorias.
  • Despesas de Pessoal: Mesmo em dificuldades, a empresa concedeu um reajuste linear de 4,11% para mais de 55 mil empregados em 2024, resgatou benefícios e realizou um concurso para mais de 3.000 vagas (cujos aprovados ainda não foram chamados).
  • Redução do Caixa: A companhia usou seu próprio caixa para investir em veículos elétricos e tecnologia em um momento de fragilidade financeira.
  • Plano de Saúde: A empresa é mantenedora do plano de saúde dos funcionários, arcando com todos os riscos. Uma mudança para um regime menos oneroso, aprovada em 2022, foi revertida no atual governo.
  • Descontrole Judicial: A falta de um diagnóstico preciso sobre as ações judiciais, principalmente trabalhistas, gerou ressalvas nos balanços pela auditoria independente. Os gastos com precatórios pesaram nos prejuízos dos últimos trimestres.

O futuro dos Correios, portanto, depende não apenas do sucesso do plano de reestruturação interna, mas também da sua capacidade de se reinventar em um mercado de logística e comunicações que mudou radicalmente nas últimas décadas. A garantia do empréstimo bilionário é um respiro, mas a transformação necessária é profunda e urgente.