Quando Kim Min-seok autorizou a publicação de um simples clipe de música infantil em junho de 2016, ele não poderia imaginar que estava prestes a desencadear um dos maiores fenômenos da internet. A canção Baby Shark não apenas conquistou crianças em todo o mundo, mas transformou a empresa sul-coreana Pinkfong em um império de mídia avaliado em centenas de milhões de dólares.
Do escritório minúsculo à bolsa de valores
Fundada em 2010 como SmartStudy, a empresa começou com apenas três funcionários, incluindo o próprio Kim e o diretor de tecnologia Dongwoo Son. O espaço era tão reduzido que, segundo Kim, nem esperávamos receber salário na época. A empresa passou por várias reformulações até encontrar seu nicho no conteúdo para crianças pequenas.
Na terça-feira (18), essa jornada culminou com a abertura de capital da Pinkfong na bolsa de valores da Coreia do Sul. As ações da empresa subiram mais de 9% no primeiro dia de negociação, alcançando uma avaliação de mais de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões).
O fenômeno viral que conquistou o mundo
O sucesso de Baby Shark não foi imediato. A música, que se acredita ter surgido nos Estados Unidos nos anos 1970 em acampamentos infantis, só explodiu quando a coreografia foi apresentada em eventos infantis no Sudeste Asiático. Clipes de crianças e adultos dançando começaram a se espalhar online, e o vídeo viralizou de forma irreversível.
Kim Min-seok descreve a experiência de acompanhar a escalada de visualizações: Havia uma sensação de festa no escritório. Em novembro de 2020, o clipe tornou-se oficialmente o vídeo mais visto da história do YouTube, com impressionantes mais de 16 bilhões de visualizações.
Kevin Chew, analista de mídia da Nanyang Technological University em Cingapura, explica o apelo da música: É atraente para crianças, embora possa irritar adultos. O próprio Kim compara a canção ao K-pop: Muito rápida, ritmada e viciante, com um efeito de repetição que facilita a memorização pelas crianças.
Desafios e futuro além do tubarão
A Pinkfong enfrentou desafios significativos em sua trajetória. Em 2019, a empresa foi processada por suposta violação de direitos autorais, mas o Supremo Tribunal da Coreia do Sul rejeitou o caso após a empresa argumentar que sua versão derivava de uma canção folclórica de domínio público.
Segundo Min Jung Kim, professora de negócios da Korea University, a empresa precisa agora provar que não depende apenas do sucesso de Baby Shark. O público-alvo é uma vantagem, observa ela, pois crianças pequenas tendem a assistir repetidamente ao mesmo material.
Kim Min-seok afirma que o negócio já está se diversificando. Enquanto Baby Shark representa cerca de um quarto da receita da empresa, outra franquia, Bebefinn, já responde por aproximadamente 40% dos ganhos.
A empresa, que hoje conta com cerca de 340 funcionários e escritórios em Tóquio, Xangai e Los Angeles, planeja usar os quase US$ 52 milhões arrecadados na abertura de capital para ampliar sua linha de filmes e personagens. O objetivo é se tornar uma produtora de conteúdo orientada por tecnologia, usando padrões de visualização e dados para moldar novos projetos.
Enquanto isso, o fenômeno Baby Shark continua permeando a cultura popular. Saleem Nashef, pai de dois filhos, expressa sentimentos contraditórios compartilhados por muitos pais: ele valoriza o caráter educativo do conteúdo, mas sua esposa considera a música estimulante demais para crianças. Ainda assim, a realidade é inegável - sua filha, prestes a completar três anos, terá uma festa de aniversário com tema Baby Shark.
Alcançamos o que muitos criadores sempre sonharam, reflete Kim Min-seok. Agora, o desafio é convencer investidores e o mercado de que a Pinkfong não é apenas um sucesso isolado, mas uma empresa de entretenimento infantil com futuro promissor além do famoso tubarão.