Brasileiros transformam vidas de crianças em risco no Camboja há 8 anos
Brasileiros acolhem crianças em risco no Camboja

Uma missão de amor no coração da Ásia

Há quase uma década, um casal de brasileiros deixou sua vida no interior de São Paulo para escrever uma nova história no Camboja, país asiático que enfrenta as consequências de um passado violento. Quésede Eger dos Santos, 41 anos, natural de Presidente Prudente, e seu marido Flávio de Souza Gonçalves, 40 anos, mudaram-se em 2016 para o país com um propósito claro: oferecer um lar seguro para crianças e jovens em situação de risco extremo.

O nascimento do Safe Place

O projeto Safe Place (Lugar Seguro) nasceu em resposta às graves vulnerabilidades que afetam crianças cambojanas. "Nosso trabalho acolhe crianças vítimas de tráfico humano, exploração sexual, violência doméstica, abandono ou negligência familiar", explica Quésede.

Atualmente, o casal cuida integralmente de 24 crianças com idades entre um ano e meio e 17 anos. No ambiente familiar criado por eles, são carinhosamente chamados de "Tia Quel" e "Tio Flávio". O processo de acolhimento conta com o apoio das autoridades cambojanas, que realizam uma análise familiar antes da transferência definitiva para o projeto.

"Uma vez entendido que não é possível a criança permanecer na família de origem, nos tornamos seus guardiões e uma nova família para ela", conta a missionária. "Nossa dinâmica é bem familiar, para que esse conceito de casa e acolhimento seja mais do que só um abrigo, mas um lugar de cura e reconstrução da identidade."

Superando um passado doloroso

O Camboja carrega as marcas do regime Khmer Vermelho, que entre 1975 e 1979 dizimou aproximadamente um terço da população do país. Segundo a France Presse, quase 2 milhões de pessoas morreram durante a ditadura de Pol Pot, incluindo aquelas que pereceram nos campos de concentração.

"Um país que passou por um genocídio recente e que, apesar de muito esforço do governo e da população para superar, ainda enfrenta consequências gritantes", reflete Quésede. "Isso resultou em muita pobreza e vulnerabilidade, que afetam diretamente as crianças."

Educação e futuro promissor

Além de moradia e assistência nas necessidades básicas, as crianças do Safe Place recebem educação formal e aprendem português. O jovem mais velho da casa, que completará 17 anos em dezembro, já planeja vir ao Brasil em 2027 para estudar engenharia.

"Ele é muito inteligente, curioso e está se preparando para essa nova etapa", comemora Quésede. "Ensinamos português para todas as crianças, o que vai facilitar esse processo na vida dele."

O compromisso do projeto é acompanhar cada criança até a fase adulta, quando estiverem preparadas para se sustentarem sozinhas.

Desafios e sonhos

O projeto voluntário é mantido exclusivamente por doações de pessoas físicas e algumas igrejas, o que representa um desafio mensal para cobrir despesas como alimentação e qualidade de vida das crianças. "Graças a Deus e à participação de muitas pessoas, temos conseguido manter esse trabalho já há oito anos", destaca Quésede.

Atualmente, o maior sonho do casal é construir uma sede própria, já que vivem em uma casa alugada - sua maior despesa. Eles receberam um terreno de doação, mas precisam arrecadar recursos para a construção.

Um dos planos mais inovadores é importar um maquinário para produção de tijolos ecológicos, com custo estimado em 10 mil dólares, incluindo taxas de importação e transporte. Essa tecnologia garantiria uma construção mais econômica e se tornaria fonte de subsistência para o projeto e de renda para jovens e famílias no futuro.

"Às vezes, as pessoas pensam que a contribuição delas seria insignificante frente ao montante que precisamos, mas a verdade é que toda contribuição faz diferença", enfatiza a voluntária. "É como o trabalho de um formigueiro. Cada um fazendo uma parte, conseguimos nos juntar e mudar a história de vida de algumas crianças."

Mais informações sobre o projeto social, a história das crianças e jovens do Safe Place, além de formas de contribuir com a causa, estão disponíveis nas redes sociais da iniciativa.