Vaticano rejeita aparições de Jesus na França e condena cruz de Dozulé
Vaticano nega aparições de Jesus na França

O Vaticano emitiu um comunicado oficial nesta quarta-feira, 12 de novembro de 2025, negando categoricamente as alegações de que Jesus Cristo teria aparecido 49 vezes na cidade francesa de Dozulé, na região da Normandia. A declaração põe fim a décadas de controvérsia sobre supostas aparições que teriam ocorrido entre 1972 e 1978.

As origens da polêmica

Na década de 1970, Madeleine Aumont, uma mãe católica, afirmou ter recebido mensagens diretamente de Jesus Cristo. Segundo seus relatos, Cristo teria ditado várias mensagens e orientado a construção de uma cruz de 7,38 metros em uma colina da região para remissão dos pecados e salvação dos que se aproximassem dela.

A cruz, de acordo com Madeleine, deveria ser totalmente iluminada e construída com medidas específicas para poder ser vista de longe. Ao longo dos anos, várias réplicas em tamanhos menores se espalharam por diferentes países, mantendo viva a controvérsia.

Posição histórica da Igreja

Já em 1983, o então bispo diocesano Jean-Marie-Clément Badré havia se manifestado contra as alegações, declarando que a construção não poderia "ser um sinal autêntico da manifestação do Espírito de Deus". Dois anos depois, em 1985, ele voltou a condenar a cruz e falou em "propaganda fanática".

Em declaração reproduzida pelo Vatican News, Badré afirmou: "Com relação ao que está acontecendo em Dozulé — a atividade e a agitação, a arrecadação de fundos por pessoas que agem por iniciativa própria, sem mandato e sem respeito à autoridade do Bispo; [...] a propaganda fanática em favor da 'mensagem'; [...] a condenação categórica daqueles que não a ela aderem — sou levado, em consciência, a julgar que, além de toda essa agitação, não discerno os sinais que me autorizariam a declarar as alegadas 'aparições' como autênticas".

Posicionamento atual do Vaticano

Agora, o Dicastério para a Doutrina da Fé apoiou formalmente as conclusões do bispo Badré, com o apoio do Papa Leão XIV em 3 de novembro. Em carta oficial, o cardeal Victor Manuel Fernández citou uma série de riscos, incluindo a perigosa comparação entre a "cruz solicitada em Dozulé com a Cruz de Jerusalém".

O documento alerta que essa equiparação "corre o risco de confundir o sinal com o mistério e de dar a impressão de que o que Cristo realizou de uma vez por todas poderia ser 'reproduzido' ou 'renovado' em um sentido físico".

O órgão vaticano também lembrou que Madeleine Aumont havia previsto o fim do mundo antes do ano 2000, argumentando: "Claramente, essa suposta profecia não foi cumprida".

Significado verdadeiro da Cruz

Em uma reflexão profunda, o Dicastério afirmou: "A Cruz não precisa de 738 metros de aço ou concreto para ser reconhecida", mas "se ergue cada vez que um coração, movido pela graça, se abre ao perdão; cada vez que uma alma se converte; cada vez que a esperança se renova onde a situação parecia impossível; e até mesmo quando, ao beijar uma pequena cruz, os fiéis se entregam a Cristo".

O texto finalizou reafirmando que, "embora o tema da volta do Senhor seja parte integrante da fé cristã, a Igreja — ao recordar que a volta de Cristo é uma verdade da fé, mesmo que ninguém possa saber ou prever a data exata ou os seus sinais — permanece vigilante contra interpretações milenaristas ou cronológicas, que correm o risco de fixar o tempo ou determinar as modalidades do Juízo Final".

Esta decisão representa mais um capítulo na longa história de discernimento da Igreja Católica sobre supostas aparições e revelações privadas, mantendo sempre o foco na ortodoxia doutrinal e na prevenção contra interpretações fundamentalistas.