O Papa Leão XIV realizou neste sábado (29) sua primeira viagem internacional desde sua eleição em maio, marcando um momento histórico em seu pontificado. O pontífice americano-peruano escolheu a Turquia como destino inaugural, com uma agenda focada no diálogo inter-religioso e na unidade cristã.
Visita à Mesquita Azul: Respeito e Silêncio
O ponto alto do dia foi a visita à Mesquita do Sultão Ahmed, mundialmente conhecida como Mesquita Azul, um dos locais mais simbólicos de Istambul. A visita ocorreu pela manhã e durou aproximadamente quinze minutos, seguindo todas as tradições muçulmanas.
Leão XIV demonstrou profundo respeito pelas tradições locais ao retirar os sapatos antes de entrar no templo, caminhando de meias brancas no imponente edifício otomano do século XVII. Diferentemente de seu antecessor, o papa não parou para rezar no local, preferindo viver o momento "em silêncio, em espírito de recolhimento e escuta", segundo informou o serviço de imprensa do Vaticano.
Acompanhado por autoridades e especialistas muçulmanos, incluindo o ministro da Cultura e Turismo turco, Mehmet Nuri Ersoy, e o mufti de Istambul, Emrullah Tuncel, o pontífice conheceu detalhes da história do local que atrai milhares de turistas anualmente.
Encontros Ecumênicos e Agenda Cristã
Além da visita à mesquita, a agenda do sábado incluiu importantes encontros com líderes religiosos cristãos. Leão XIV se reuniu com representantes de igrejas e comunidades cristãs na igreja síria ortodoxa de Mor Ephrem e participou de uma oração na igreja de São Jorge.
O momento mais significativo foi o encontro com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, com quem assinou uma declaração conjunta reforçando o compromisso das Igrejas Católica e Ortodoxa com o avanço do diálogo teológico. Os dois líderes enfatizaram a busca por uma data única para a celebração da Páscoa e condenaram categoricamente o uso da religião para legitimar violência.
Ausência Notável e Contexto Histórico
Uma ausência chamou atenção na agenda: o Papa Leão XIV não visitou a Basílica de Santa Sofia, situada a apenas 300 metros da Mesquita Azul. O local foi convertido em mesquita em 2020 por iniciativa do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, decisão que havia deixado o Papa Francisco "muito triste" na época.
A viagem à Turquia teve como objetivo comemorar os 1.700 anos do Concílio de Niceia, evento fundador do cristianismo que reuniu 300 bispos do Império Romano na cidade turca de Iznik (antiga Niceia).
Na sexta-feira (27), o papa já havia se reunido com o presidente Erdogan em Ancara, onde alertou sobre os riscos de "intensificar o nível dos conflitos em escala global", repetindo a expressão usada por Francisco sobre uma "Terceira Guerra Mundial travada aos poucos".
O dia terminou com uma missa na Volkswagen Arena de Istambul, que reuniu cerca de 4.000 fiéis. A viagem continua até terça-feira com uma visita ao Líbano, mantendo o foco na promoção da unidade e do diálogo entre diferentes religiões e culturas.
