Papa Leão XIV pede união religiosa no Líbano em visita histórica
Papa defende coexistência pacífica no Líbano

O Papa Leão XIV realizou um apelo emocionante pela coexistência pacífica entre diferentes crenças durante um encontro histórico com líderes religiosos no Líbano nesta segunda-feira, 1º. O evento marcou um dos momentos mais simbólicos de sua primeira viagem internacional como pontífice, que incluiu também passagem pela Turquia.

Cerimônia na Praça dos Mártires

O principal compromisso do dia foi um encontro inter-religioso na Praça dos Mártires, em Beirute. Sob uma grande tenda, reuniram-se patriarcas cristãos do país junto com líderes espirituais sunitas, xiitas e drusos. O local foi escolhido por seu profundo simbolismo: ali passava a chamada "linha verde" até os anos 1990, divisão que separava cristãos e muçulmanos na capital libanesa.

Após ouvirem hinos e leituras da Bíblia e do Alcorão, Leão XIV fez um discurso no qual usou o termo árabe "adhan" para se referir ao chamado muçulmano à oração. "Que cada toque de sino, cada 'adhan', cada chamado à oração se fundam em um único e sublime hino", declarou o Papa, visando a unidade religiosa.

Líbano como farol de paz

O pontífice elogiou a tradição libanesa de tolerância religiosa, descrevendo-a como um farol do "dom divino da paz" para toda a região. Ele reconheceu que, em uma época em que a coexistência pode parecer um sonho distante, o povo do Líbano oferece um exemplo poderoso.

"Numa época em que a coexistência pode parecer um sonho distante, o povo do Líbano, ao mesmo tempo que abraça diferentes religiões, representa um poderoso lembrete de que o medo, a desconfiança e o preconceito não têm a última palavra", afirmou Leão XIV.

A visita ocorre em um momento de profunda tensão para o pequeno país mediterrâneo, que enfrenta anos de conflitos, crises econômicas e impasse político, agravados pela explosão no porto de Beirute em 2020 e pelas recentes tensões na região.

Contexto de tensão e apelos

O Grande Mufti sunita do Líbano, Abdul-Latif Derian, deu as boas-vindas ao Papa e lembrou as boas relações forjadas por seu antecessor, o papa Francisco, citando a declaração conjunta de 2019 sobre fraternidade humana.

Já o clérigo xiita Ali al-Khatib, vice-presidente do Conselho Supremo Islâmico Xiita, fez um apelo direto: "Colocamos o Líbano em suas mãos para que talvez o mundo nos ajude", pedindo assistência para pôr fim aos ataques de Israel, que realiza incursões aéreas quase diárias contra membros do Hezbollah.

Para muitos libaneses, a visita do pontífice foi recebida como um sinal de esperança. "Nós, libaneses, precisamos desta visita depois de todas as guerras, crises e desespero que vivenciamos", afirmou o padre Youssef Nasr, secretário-geral das Escolas Católicas do Líbano.

Presença cristã no Oriente Médio

Mais cedo, Leão XIV começou o dia rezando no túmulo de São Charbel Makhlouf no Mosteiro de São Maroun, em Annaya, a cerca de 40 km de Beirute. O santo é venerado tanto por cristãos quanto por muçulmanos, e seu túmulo recebe centenas de milhares de peregrinos anualmente.

Atualmente, os cristãos representam cerca de um terço dos 5 milhões de habitantes do Líbano, conferindo ao país a maior porcentagem de cristãos no Oriente Médio. Um acordo de partilha de poder garante que o presidente seja um cristão maronita, fazendo do Líbano o único país árabe com um chefe de Estado cristão.

O Vaticano considera essa presença cristã um baluarte fundamental para a Igreja na região, especialmente após o êxodo de cristãos do Iraque e da Síria durante a ascensão do grupo Estado Islâmico.

Ao final do evento inter-religioso, os líderes espirituais plantaram uma muda de oliveira como símbolo da paz, reforçando a mensagem de unidade e esperança em um país que, apesar de seus desafios, continua sendo um modelo único de diversidade religiosa no mundo árabe.